Música: Sailing - Rod Steward
Foi no dia 20/08/1994, partimos de Lisboa pela madrugada para aproveitar a maré, eram 06:00 lá estávamos a bordo do Magali o meu pequeno veleiro de 7,50m construído em 1942.
A primeira parte da viagem decorreu a motor, pois o vento era praticamente nulo. Toc, toc, toc - tossia velho Volvo Penta de 1 cilindro, apesar de ser mais recente que a embarcação ostentava com orgulho a data de fabrico 1950.
Chegamos ao cabo Espichel já perto da hora de almoço, o velho navio arrastava-se pachorrentamente a 3 nós. Decididos a cortar caminho a direito rumo a Sines. Vi-me obrigado a mergulhar debaixo do barco para soltar o giroete de modo ao odómetro poder marcar a distancia percorrida. Para não perdermos tempo e visto que o vento era muito fraco, optamos por manter as velas içadas continuando em andamento. Atei um cabo e mergulhei para debaixo do barco, é impossível descrever a sensação que tive, tirando o casco do barco apenas via o azul. Acho que nunca me tinha sentido tão só, mas ao mesmo tempo sentia-me em casa.
Algumas horas depois avistamos lá ao longe estranho esguichos de espuma, intrigados fomos buscar os binóculos e vemos um bando de golfinhos, virei a proa na sua direcção embora achasse impossível alcança-los. Foi com enorme surpresa que os vimos aproximarem-se, vindo brincar alegremente na proa do vetusto barco. Os seus saltos e acrobacias deixaram-nos maravilhados durante longos minutos, a velocidade reduzida da embarcação e o infatigável toc-toc foram esquecidos enquanto corríamos da proa à popa e de estibordo a bombordo para tiramos fotos ou simplesmente contemplá-los. Talvez cansados da nossa lentidão acabaram por partir, deixando-nos completamente entusiasmados.
Com a chegada do pôr-do-sol deu-se outro momento mágico, retomei a cana do leme após ter vestido o fato isotérmico, apesar de ser Agosto
com o sol a perder intensidade o frio começou a aumentar. A beleza do pôr -do-sol no mar é redobrada, o Zé agarrou na câmara e registou a foto que ainda hoje uso para me identificar.
Esta foto trás-me recordações não só de momentos belos mas sobretudo de uma profunda sensação de liberdade. Nunca me senti tão livre em toda a minha vida! Apesar de confinado a um espaço de 7,25 m por 3 m, tinha à minha volta a imensidão do Oceano, apesar da cabine não ter mais de 1,5 m de altura, sobre a minha cabeça pairava o infinito. Todas as noites sonho em voltar a fazer uma viagem assim, desta vez sem rumo nem destino traçados, apenas navegar pelo mar impelido pelos ventos.
A noite passou lenta e fria, apesar de ter um fato de treino, uma camisola de lã, um gorro de malha e umas jardineiras e casaco isotérmicos (uns Helly Hansen concebidos para o agreste mar Báltico) apenas uma garrafa de Brandi conseguia aquecer a alma.
Pela manhã dobramos o cabo de S. Vicente. É uma visão grandiosa esta cabo, a 1ª vez que aqui passei estava tocar Wagner, mas hoje não havia música para além do toc-toc. Senti-me esmagado de novo pela imponência destas rochas, talvez existam no mundo outros lugares assim, mas este tem uma mística muito especial, uma série de promontórios separados por pequenas baías têm o seu ex-libris no promontório de Sagres venerado desde o tempo dos Celtas que lhe chamavam o promontório dos Deuses acreditando que era aí que Eles viviam.
Séculos mais tarde foi escolhido pelo Infante D. Henrique como berço do maior e menos sanguinário império da História. Foi uma obra de Deuses os feitos de Gil Eanes e dos que lhe seguiram, pois apenas Deuses conseguiriam realizar o feito que eles fizeram de tornar o mundo pequeno.
O 2º dia de viagem decorreu calmamente até chegarmos à Salema, aí o vento de Norte começou a rugir forte, impulsionando o Magali (já com o motor desligado num mais que merecido repouso) a uma velocidade de 10 nós, que rapidamente nos fez chegar ao nosso destino - Lagos. As 5 toneladas de peso gostavam era de vento rijo e o velho veleiro acelerou deixando uma comprida esteira de espuma e percorrendo as milhas que faltavam até à baía de Lagos ao triplo da velocidade que o motor nos tinha impulsionado durante dia e meio.
A viagem apenas ficou interrompida, um hei-de retomá-la até à eternidade!
Velejem no Lado Escuro da Lua!
Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!
Foi no dia 20/08/1994, partimos de Lisboa pela madrugada para aproveitar a maré, eram 06:00 lá estávamos a bordo do Magali o meu pequeno veleiro de 7,50m construído em 1942.
A primeira parte da viagem decorreu a motor, pois o vento era praticamente nulo. Toc, toc, toc - tossia velho Volvo Penta de 1 cilindro, apesar de ser mais recente que a embarcação ostentava com orgulho a data de fabrico 1950.
Chegamos ao cabo Espichel já perto da hora de almoço, o velho navio arrastava-se pachorrentamente a 3 nós. Decididos a cortar caminho a direito rumo a Sines. Vi-me obrigado a mergulhar debaixo do barco para soltar o giroete de modo ao odómetro poder marcar a distancia percorrida. Para não perdermos tempo e visto que o vento era muito fraco, optamos por manter as velas içadas continuando em andamento. Atei um cabo e mergulhei para debaixo do barco, é impossível descrever a sensação que tive, tirando o casco do barco apenas via o azul. Acho que nunca me tinha sentido tão só, mas ao mesmo tempo sentia-me em casa.
Algumas horas depois avistamos lá ao longe estranho esguichos de espuma, intrigados fomos buscar os binóculos e vemos um bando de golfinhos, virei a proa na sua direcção embora achasse impossível alcança-los. Foi com enorme surpresa que os vimos aproximarem-se, vindo brincar alegremente na proa do vetusto barco. Os seus saltos e acrobacias deixaram-nos maravilhados durante longos minutos, a velocidade reduzida da embarcação e o infatigável toc-toc foram esquecidos enquanto corríamos da proa à popa e de estibordo a bombordo para tiramos fotos ou simplesmente contemplá-los. Talvez cansados da nossa lentidão acabaram por partir, deixando-nos completamente entusiasmados.
Com a chegada do pôr-do-sol deu-se outro momento mágico, retomei a cana do leme após ter vestido o fato isotérmico, apesar de ser Agosto
com o sol a perder intensidade o frio começou a aumentar. A beleza do pôr -do-sol no mar é redobrada, o Zé agarrou na câmara e registou a foto que ainda hoje uso para me identificar.
Esta foto trás-me recordações não só de momentos belos mas sobretudo de uma profunda sensação de liberdade. Nunca me senti tão livre em toda a minha vida! Apesar de confinado a um espaço de 7,25 m por 3 m, tinha à minha volta a imensidão do Oceano, apesar da cabine não ter mais de 1,5 m de altura, sobre a minha cabeça pairava o infinito. Todas as noites sonho em voltar a fazer uma viagem assim, desta vez sem rumo nem destino traçados, apenas navegar pelo mar impelido pelos ventos.
A noite passou lenta e fria, apesar de ter um fato de treino, uma camisola de lã, um gorro de malha e umas jardineiras e casaco isotérmicos (uns Helly Hansen concebidos para o agreste mar Báltico) apenas uma garrafa de Brandi conseguia aquecer a alma.
Pela manhã dobramos o cabo de S. Vicente. É uma visão grandiosa esta cabo, a 1ª vez que aqui passei estava tocar Wagner, mas hoje não havia música para além do toc-toc. Senti-me esmagado de novo pela imponência destas rochas, talvez existam no mundo outros lugares assim, mas este tem uma mística muito especial, uma série de promontórios separados por pequenas baías têm o seu ex-libris no promontório de Sagres venerado desde o tempo dos Celtas que lhe chamavam o promontório dos Deuses acreditando que era aí que Eles viviam.
Séculos mais tarde foi escolhido pelo Infante D. Henrique como berço do maior e menos sanguinário império da História. Foi uma obra de Deuses os feitos de Gil Eanes e dos que lhe seguiram, pois apenas Deuses conseguiriam realizar o feito que eles fizeram de tornar o mundo pequeno.
O 2º dia de viagem decorreu calmamente até chegarmos à Salema, aí o vento de Norte começou a rugir forte, impulsionando o Magali (já com o motor desligado num mais que merecido repouso) a uma velocidade de 10 nós, que rapidamente nos fez chegar ao nosso destino - Lagos. As 5 toneladas de peso gostavam era de vento rijo e o velho veleiro acelerou deixando uma comprida esteira de espuma e percorrendo as milhas que faltavam até à baía de Lagos ao triplo da velocidade que o motor nos tinha impulsionado durante dia e meio.
A viagem apenas ficou interrompida, um hei-de retomá-la até à eternidade!
Velejem no Lado Escuro da Lua!
Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!
São esses pequenos momentos que nos encontramos plenos que chamo de felicidade, são pequenos momentos mas são eles que fazem a diferença
ResponderEliminarbeijos
Multiolhares - Por acaso este até nem foi pequeno:-) Foi um dia e meio de puro prazer.
ResponderEliminarJá uma vez estive num barco com a companhia de golfinhos, é uma sensação indescritível! Um abraço, continuação de bons mergulhos!
ResponderEliminarRafeiro Perfumado - Não foi a primeira nem a última, mas esta teve um sabor especial pela proximidade a que eles estavam.
ResponderEliminaro mar.. sempre o mar... e então na companhia de golfinhos, que sonho, a que eu também já tive a sorte de assistir nos Açores e em tenerife!! Não é à toa que tenho tatuado um pequeno golfinho!
ResponderEliminarresto de boa semana. Bjhs
É dos animais mais simpáticos que existem.
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