terça-feira, 29 de julho de 2008

Gula


Dedicado à Micas

Não estando a chamar gulosa à Micas, apenas não resisti ao cheiro que emanava da pastelaria alemã, entrei e comprei uma fatia de cada bolo que depois cortadas em cubos foram a delicia de toda a gente.

Os bolos até não são muito doces, mas que são uma delicia, lá isso são.

Fiquei a pensar se todas as pastelarias na Alemanha serão assim, saborosas até ao fim!

Fiquem Bem, no Lado Escuro da Lua!

domingo, 27 de julho de 2008

Bailando Va

in "The Wet Side of the Moon"

O vento acalmou completamente, apenas ficou uma ligeira brisa e aquele calor agradável dos fins de tarde estivais. O sol vai descendo em direcção ao horizonte e prolongando as sombras dos pinheiros, lá ao fundo sente-se a presença do mar, consigo adivinhar as ondas a navegar lá bem de longe e a rebentarem preguiçosamente na praia, aqui e ali um sopro mais enérgico do vento trás uma suave melodia e acaricia-me o rosto.

Vou bebendo uma cerveja e comendo uns tremoços à beira da piscina, hesitando entre a preguiça e a vontade de dar mais um mergulho. Queria mesmo era estar na praia, esta é uma hora mágica, a minha altura favorita para lá estar.

Detesto estar na praia quando esta está apinhada de gente, não gosto de lá estar na torreira do calor, a partir das 18:00 é quando verdadeiramente sabe bem estar na praia, ficar envolvido pela névoa da maresia, admirar o sol a pôr-se, ouvindo simplesmente o mar, ou então uma suave melodia com o ritmo de Bossa Nova e uma voz doce, "Bailando Va" dos La Caina - sou invadido por uma paz imensa, os meus pensamentos flutuam na brisa, todos os problemas e stresses afastam-se do meu horizonte, como invariavelmente me acontece nestes momentos os meus pensamentos são desviados para o fundo do mar...

Revejo-me a contemplar os fundos do mar, a beleza das anémonas ondeando os tentáculos verdes e purpura na corrente, a delicadeza cruel das estrelas do mar, as esponjas que dificilmente nos apercebemos que pertencem ao reino animal.

Estou a sonhar que estou bailando lá debaixo de água, vejo-me num salão de baile submarino dançando com sereias e golfinhos, ao meu lado estão moreias e safios, bodiões e judias, santolas e caranguejos, lulas e chocos. Um polvo é o maestro, as lapas, percebes e mexilhões compõem a orquestra.

Vou bailando, rodopiando, feliz e em liberdade absoluta, sinto-me inebriado, será a narcose? Não! A narcose não nos afecta nos sonhos, continuo a dançar mudando de par, passo de barbatana em barbatana e volto aos braços da minha sereia.

Olho bem fundo naqueles olhos belos de morrer e beijo-a ternamente, sinto a suavidade dos seus lábios nos meus, o calor doce da sua boca. Podia morrer ali com a cabeça dela encostada no meu peito e um sorriso feliz e pacifico nos seus lábios, abraçado ao seu corpo de sonho.

Deixo-me embalar pela música e danço abraçado a ela, de repente começa a soar o alarme do computador, tenho de retornar à superfície. Enquanto faço a paragem de descompressão olho para baixo, já não a vejo, nem ao salão de baile, apenas vejo a claridade que desaparece com a profundidade.

Mesmo assim não me sinto triste, a vida é composta por todos os segundos que passam, se em alguns deles fui verdadeiramente feliz então toda a vida terá valido a pena.

Os sonhos também fazem parte da vida, que seriamos nós se não sonhássemos? Que diferença teríamos das pedras ou da areia? Que interessa se é sonho ou realidade? Não será a realidade apenas um sonho?

Continuei bailando e...

Me sinto tan chiquito no Lado Escuro da Lua!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Naufrágio

in "The Wet Side of the Moon"

Um bodião curioso veio observar-me, olhou-me atentamente de cima a baixo. Fiquei a observá-lo também, admirando o seu corpo listado e a graciosidade dos seus movimentos.

Ele cumprimentou-me e fez-me sinal para o seguir. Perguntei-lhe onde me levava e ele foi respondendo para eu ter calma. Ali debaixo de água a pressa e o stress não tinham lugar. Aconselhou-me a gozar a viagem, a observar a beleza que o Oceano tem para oferecer a quem se dá ao prazer de contemplar.

Concordei em absoluto, fui olhando para a paisagem e vislumbrei a beleza frágil de uma gorgónia, ondeando os braços na corrente, sem pressas vai recolhendo aquilo que a corrente lhe trás, vai crescendo à medida que as gerações se sucedem, ganhando cores e complexidades cada vez mais belas.

Continuamos a descer, sinto-me invadido por uma paz serena, mas há algo mais. À medida que o computador vai indicando uma profundidade maior, vai aumentando uma sensação de melancolia, penso que se trata do aumento da pressão e da diminuição da temperatura e da luz. Mas não é só isso.


De facto já tinha mergulhado mais fundo e nunca me tinha sentido assim, de repente vejo uma forma. Pergunto o que é ao bodião, este responde-me que não sabe ao certo, mas que é algo que veio do meu mundo.

Aproximo-me e confirmo que aquelas formas só podem ter sido produzidas pela mão do homem, parece uma ancora. Sim, talvez seja uma ancora, mas lá atrás vejo superfícies planas, demasiado planas.

Chegamos ao River Gurara, diz-me o bodião.

É isso estou num naufrágio.

De repente vejo uma sombra na balustrada, sinto um arrepio e presto uma singela homenagem aos que ali pereceram, por todo o lado sente-se angustia, bravura, terror, valentia, desespero e resignação. Um peso enorme faz-se sentir sobre os meus ombros.

Os fantasmas ainda lá estão, presos entre os corais e o metal, ainda se ouvem os seus gritos, ainda se sente a sua presença, ainda se vêem as suas sombras.

Não há nada de mais profundo que mergulhar num naufrágio, mais do que em outra qualquer catástrofe aqui os sentimentos ficam mais incrustados como se fossem fantasmas, testemunhos indeléveis da angustia e bravura, da morte e salvação.


Não naufraguem no Lado Escuro da Lua!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Tiro com arco

Fundamentalmente o atirador aponta para si próprio.
O Zen na arte de manejar o arco

Resolvi, 24 anos depois, voltar a praticar tiro com arco. Estava a comprar comida para os cães na Decathlon e dei de caras com os arcos e as flechas, já lá os tinha visto, mas naquele dia, vá lá saber-se porquê deu-me com força.

Ainda guardava religiosamente o meu velhinho equipamento, pelo que apenas precisei de comprar o alvo, uma corda nova e penas novas para as flechas (o plástico com os anos tornou-se ressequido e quebradiço). A primeira constatação foi que houve uma redução para metade da potencia dos arcos, penso que devido ao menor peso das flechas de carbono.

O tiro com arco é o meu desporto favorito fora de água. Sempre me transmitiu uma profunda paz, recentemente li alguns textos retirados do livro "O Zen na arte de manejar o arco" (que nunca consegui encontrar à venda) e comecei a perceber que esta era de facto uma forma de meditação. Ao nos concentrarmos nos movimentos, na respiração, na mira e no alvo, tudo o resto deixa de existir e a nossa mente fica limpa de tudo atingindo um estado de meditação pura.

Já realizei muitas formas de meditação, desde concentração na respiração até à pura observação do mar ou de um jardim de seixos; nadar é outra forma que uso para meditar, a concentração nos movimentos e na respiração também apagam do meu cérebro todo o ruído que muitas vezes acumulamos durante o dia.

Antes de ontem estava a sentir-me tão bem, com tanta serenidade, que quando finalmente resolvi parar vi que tinha arrancado a pele dos dedos. Sentia algum incómodo mas nada que se sobrepusesse ao prazer que estava a sentir. Cada inspiração provocava uma sensação idêntica à que sentimos quando bebemos um copo de água quando temos muita sede. Esta é a melhor maneira de definir aquilo que sentia. Nada me passava pela cabeça, exceptuando os procedimentos de manejo do arco, perdi mesmo a noção de mim e durante algum tempo senti-me como se fosse a flecha e o arco numa harmonia perfeita. durante esse tempo era como se não existisse.

Esta noite, antes de vir para aqui, estive a lançar umas flechas e coloquei a câmara a filmar e fotografar (a foto de cima foi tirada nessa altura) no sentido de ver se os movimentos estavam correctos, acabei por me deixar embalar e apesar da soprar uma brisa fresca ainda lá estive uma hora, lançando 3 flechas, pousando o arco, uma pequena caminhada para ir retirar as flechas e novamente lançar mais 3 flechas. Sinto-me em paz, apesar de todo o tumulto que atravessa a minha vida.

Fiquem Bem, certeiros no Lado Escuro da Lua!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Computadores de mergulho e lentes de contacto



O computador com que mergulho é próprio para isso e só serve mesmo para calcular tempos de descompressão e de permanecia à profundidade, dar indicações de profundidade, pressão parcial de O2, quantidade de ar na garrafa, tempo de mergulho, velocidade de subida e ritmo de consumo de ar. Já agora dou uma explicaçãozinha sobre o "bicho".

O "pichavelho" que se vê do lado direito é o emissor que se liga à garrafa e transmite a pressão do ar que ela contêm. No computador existem 2 ecrãs, o mais pequeno indica a pressão do ar na garrafa à esquerda e o tempo que dura até ser necessário iniciar a subida à direita; ao centro os 2 triangulos são os alarmes de excesso de consumo de ar e perda de contacto com o emissor. No ecran maior (que era onde a porca torcia o rabo, i.e. não conseguia ler algumas das informações que lá vinham) diz, no canto superior esquerdo, a profundidade nesse instante, seguindo no sentido dos ponteiros do relógio, tempo de imersão, informação de descompressão e por fim a profundidade máxima atingida. No centro estão o alarme de subida rápida e quadro com a velocidade de súbida em percentagem da ideal que alterna com a pressão parcial de O2, que era precisamente aquilo que não conseguia ler. A importancia da PPO2 é só que se excedermos os 1,6 corre-se um enorme risco de morte por envenenamento. Ah! Pois é o Oxigénio é um veneno que só se pode consumir com moderação (estamos a falar em pressões parciais e não em percentagens).

Para quem sofre de falta de vista existem 2 soluções para ver bem debaixo de água: ou manda graduar as lentes dos óculos de mergulho ou usa lentes de contacto. Graduar os óculos de mergulho fica caro e como eu gosto de usar lentes inclinadas é difícil, depois há o problema de eu necessitar de lentes bifocais. As lentes de contacto têm de ser porosas de modo a libertar qualquer bolha de ar entre elas e o olho pois se tal não acontecer na subida a mesma ao expandir-se irá provocar um traumatismo no olho. Outra questão é a económica, um par de lentes diárias progressivas custa 2 € (as normais são mais baratas) e se perdermos, partirmos ou se for necessário alterar as diopetrias das lentes de uma máscara é um balurdio.

Fiquem Bem, no Lado Escuro da Lua!