sexta-feira, 31 de julho de 2009

A melhor viagem da minha vida

Música: Sailing - Rod Steward

Foi no dia 20/08/1994, partimos de Lisboa pela madrugada para aproveitar a maré, eram 06:00 lá estávamos a bordo do Magali o meu pequeno veleiro de 7,50m construído em 1942.

A primeira parte da viagem decorreu a motor, pois o vento era praticamente nulo. Toc, toc, toc - tossia velho Volvo Penta de 1 cilindro, apesar de ser mais recente que a embarcação ostentava com orgulho a data de fabrico 1950.

Chegamos ao cabo Espichel já perto da hora de almoço, o velho navio arrastava-se pachorrentamente a 3 nós. Decididos a cortar caminho a direito rumo a Sines. Vi-me obrigado a mergulhar debaixo do barco para soltar o giroete de modo ao odómetro poder marcar a distancia percorrida. Para não perdermos tempo e visto que o vento era muito fraco, optamos por manter as velas içadas continuando em andamento. Atei um cabo e mergulhei para debaixo do barco, é impossível descrever a sensação que tive, tirando o casco do barco apenas via o azul. Acho que nunca me tinha sentido tão só, mas ao mesmo tempo sentia-me em casa.

Algumas horas depois avistamos lá ao longe estranho esguichos de espuma, intrigados fomos buscar os binóculos e vemos um bando de golfinhos, virei a proa na sua direcção embora achasse impossível alcança-los. Foi com enorme surpresa que os vimos aproximarem-se, vindo brincar alegremente na proa do vetusto barco. Os seus saltos e acrobacias deixaram-nos maravilhados durante longos minutos, a velocidade reduzida da embarcação e o infatigável toc-toc foram esquecidos enquanto corríamos da proa à popa e de estibordo a bombordo para tiramos fotos ou simplesmente contemplá-los. Talvez cansados da nossa lentidão acabaram por partir, deixando-nos completamente entusiasmados.

Com a chegada do pôr-do-sol deu-se outro momento mágico, retomei a cana do leme após ter vestido o fato isotérmico, apesar de ser Agosto
com o sol a perder intensidade o frio começou a aumentar. A beleza do pôr -do-sol no mar é redobrada, o Zé agarrou na câmara e registou a foto que ainda hoje uso para me identificar.

Esta foto trás-me recordações não só de momentos belos mas sobretudo de uma profunda sensação de liberdade. Nunca me senti tão livre em toda a minha vida! Apesar de confinado a um espaço de 7,25 m por 3 m, tinha à minha volta a imensidão do Oceano, apesar da cabine não ter mais de 1,5 m de altura, sobre a minha cabeça pairava o infinito. Todas as noites sonho em voltar a fazer uma viagem assim, desta vez sem rumo nem destino traçados, apenas navegar pelo mar impelido pelos ventos.

A noite passou lenta e fria, apesar de ter um fato de treino, uma camisola de lã, um gorro de malha e umas jardineiras e casaco isotérmicos (uns Helly Hansen concebidos para o agreste mar Báltico) apenas uma garrafa de Brandi conseguia aquecer a alma.

Pela manhã dobramos o cabo de S. Vicente. É uma visão grandiosa esta cabo, a 1ª vez que aqui passei estava tocar Wagner, mas hoje não havia música para além do toc-toc. Senti-me esmagado de novo pela imponência destas rochas, talvez existam no mundo outros lugares assim, mas este tem uma mística muito especial, uma série de promontórios separados por pequenas baías têm o seu ex-libris no promontório de Sagres venerado desde o tempo dos Celtas que lhe chamavam o promontório dos Deuses acreditando que era aí que Eles viviam.

Séculos mais tarde foi escolhido pelo Infante D. Henrique como berço do maior e menos sanguinário império da História. Foi uma obra de Deuses os feitos de Gil Eanes e dos que lhe seguiram, pois apenas Deuses conseguiriam realizar o feito que eles fizeram de tornar o mundo pequeno.

O 2º dia de viagem decorreu calmamente até chegarmos à Salema, aí o vento de Norte começou a rugir forte, impulsionando o Magali (já com o motor desligado num mais que merecido repouso) a uma velocidade de 10 nós, que rapidamente nos fez chegar ao nosso destino - Lagos. As 5 toneladas de peso gostavam era de vento rijo e o velho veleiro acelerou deixando uma comprida esteira de espuma e percorrendo as milhas que faltavam até à baía de Lagos ao triplo da velocidade que o motor nos tinha impulsionado durante dia e meio.

A viagem apenas ficou interrompida, um hei-de retomá-la até à eternidade!


Velejem no Lado Escuro da Lua!

Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

AZUL

Música: The Blue - David Gilmour

Fecho os meus olhos
Cheios de estrelas
Cheios de luz
AZUL

A água molha-me a pele
Encho os pulmões
Afundo-me no
AZUL



No meio dos destroços do vapor
Um polvo contempla-me
Vou flutuando no
AZUL

No fundo do mar mil cores
Milhões de tonalidades
Vermelho, verde e
AZUL



Nas cavernas daquele navio
Muitas dores passaram
Mas lá ao fundo é
AZUL

Vejo esponjas e gorgónias
Polvos, sargos e fanecas
Mas espanta-me o
AZUL




Na escuridão da profunda gruta
Seres estranhos passeiam
Também eles procuram
AZUL

Lá fora vejo a glória da luz
Uma profunda e intensa
Mas suave no tom
AZUL




O sol aquece-me a alma
Banha-me o corpo
Sob um céu
AZUL

O barco flutua placidamente
Espera-me sem pressa
Sobre o oceano
AZUL


Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!

domingo, 12 de julho de 2009

Berlengas

1º mergulho nas Berlengas, posso dizer que foi fantástico e se tivesse de realçar um aspecto apenas diria a cor da água! De um azul profundo, magnético, escuro.

Depois foi a excelência da organização da Haliotis, demonstrando que o prémio do melhor centro PADI de 2008 não foi atribuído por acaso, uma saída, 2 mergulhos com um almoço (lanche) pelo meio, servido nas Berlengas (aproveito para chamar a atenção às casa de banho das ilhas que parecem saídas do jurássico, pequenas, com um aspecto muito pouco convidativo, de realçar que ao contrário do que qualquer um possa pensar foram feitas há apenas 6 anos, realmente incompreensível).
Voltando ao mergulho, muita fauna, visibilidade de mais de 20 metros, o AZUL, aquele AZUL é de morrer.

Começamos na gruta do rabo de asno, cuja entrada a 30 metros de profundidade, subindo ligeiramente até aos 26 metros. A gruta é algo comprida com uma saída para o outro lado, mas lá dentro reina o escuro, apenas se vendo o AZUL em ambas as extremidades.

Para além de uma Santola enorme, os sargos e as fanecas eram incontáveis. A temperatura da água rondava os 16º, o que até nem era mau para 30 metros de profundidade.

Do lado negativo de referir a perda da lanterna de flash que deve ter saltado do encaixe quando vesti o colete (a minha mania de vestir o colete dentro de água).

A este propósito introduzo já o 2º mergulho, a corrente era de tal forma forte à superfície que tive de optar por equipar-me a bordo. Depois foi avançar a pulso agarrado aos cabos do barco até ao cabo da ancora e descer firmemente agarrado a este. Felizmente que a partir dos 10-15 metros a corrente perdia completamente a força.

O local foi o Vapor do Trigo, um naufrágio de um navio a vapor grego em 1926 de nome Andreus e, como o nome indica transportava trigo. Diz-se que durante algum tempo após o naufrágio apareceu muito peixe morto pois ao ingerirem o trigo este inchava nos estômagos acabando por os matar.

Está a 26 metros de profundidade e o local onde mergulhamos (que é o mais interessante) foi junto às enormes caldeiras, onde para além destas tem ainda grutas formadas pelo cavername e que abrigam muita fauna de grande porte.

Infelizmente a bateria da câmara está mesmo nas lonas e só me permitiu tirar meia dúzia de fotos tanto no 1º como no 2º mergulho. O final do mergulho foi uma aventura pois tendo sido arrastados pela corrente para cerca de 1 milha do barco, foi com alguma apreenção que nos víamos a afastar cada vez mais, pelo meu lado sabia que podia contar com a experiência do meu buddy (que já estava a bordo) mas tudo se resolveu quando um barco de pescadores passou e nos deu boleia. Um verdadeiro drift-dive!!!
Mas a minha memória ficará para sempre marcada pelo AZUL, podem ver um pequeno exemplo do AZUL numa foto em que apenas corrigi os níveis de luz

Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

No teu deserto


Já faz muito tempo que não lia um livro em menos de 24 horas. Aconteceu com “No teu deserto” de Miguel Sousa Tavares. É certo que o livro não é grande, tem as letras bem dimensionadas, mas lê-se num ápice, cativa-nos, prende-nos e depois acaba-se, deixando imediatamente saudades.


É um livro relatado na primeira pessoa, mostrando uma faceta de MST que poucos conhecem, apenas os mais íntimos ou, no meu caso, frequentou o mesmo bar de Lagos e na mesa do lado observou e ouviu por várias vezes o Miguel em contraponto, mas não em oposição, com o Miguel Sousa Tavares que vemos na TV.


O deserto é mesmo assim, muda uma pessoa, transforma-a. Uma viagem ao deserto é uma viagem de ida, quem de lá regressa já não é a mesma pessoa que partiu, essa morre lá invariavelmente. Enquanto o li regressei lá, senti os seus cheiros, os seus calores, os seus frios. Lembrei-me das suas estranhezas e da sua extrema beleza, árida, seca, deserta, selvagem. Admito que quem não tiver vivido essa experiencia possa não ter uma sensação tão intensa quanto a minha, pois o livro não relata propriamente a viagem, centra-se numa relação de 2 pessoas em que o deserto se entranha, mistura, condiciona, numa relação impossível de acontecer fora do deserto. De facto este livro não conta uma história, mas sim 5 histórias: a dele, a da Cláudia, a de ambos, a da viagem e a deles no deserto. Tudo usando as mesmas frases, as mesmas palavras.


Um dos mais belos livros que já li!


Fiquem Bem no Lado Escuro do Deserto!

domingo, 5 de julho de 2009

Beautiful day

Lembro-me do azul
Um azul profundo, luminoso
Onde a vista se perdia
Achando-se nos corais

Nadei na mansidão da corrente
Livre das grilhetas da gravidade
Pairei sobre rochas, sobre areia
Na ternura da imponderabilidade


Lembro-me do crepúsculo
Da doçura da água
Que me acolhe no seu seio
Que me abraça suavemente

As medusas soltam os tentáculos
Como cabelos sacudidos no vento
Ondeiam ao sabor da corrente
Despenteados, belos, livres


Lembro-me da escuridão
Sem a luz do dia
Sem a luz da lanterna
Outra luz surge

Milhares de estrelas brilham
Como uma via láctea
No fundo do Oceano
O esplendor galáctico



Lembro-me de 2 olhos fitarem-me
Interrogavam quem anda aí
Quem ousa perturbar a Paz
Quem trouxe essa luz

Sinto-me intruso naquele mundo
Sinto-me um estranho na terra
Quero viver aqui
Embora em breve deva partir


Lembro-me daquele dia
Da imensa paz
Do sublime pôr-do-sol
Da serena noite

No nevoeiro da memória
Persiste aquele dia que passou
Como gravado numa rocha
Como desenhado no vento

Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

De pensamento do dia a pensamento da semana



Decidi transformar o pensamento do dia do último post em pensamento da semana, ou melhor dos últimos 4 anos.
Este governo não cairá porque não é um edifício,
sairá com benzina porque é uma nódoa.

Eça de Queirós
Perdoem-me a repetição mas o momento exige.

Esta é a imagem de um ministro de uma nação num parlamento, de facto este governo é uma nódoa para a história de uma nação que já foi grande em orgulho e feitos e que a única grandeza que lhe resta é a dos disparates desta criatura.


Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!