Mas afinal é sempre possível encontrar onde nos escondermos. Vi um caranguejo usar uma cenoura do mar como abrigo, quase não o via se ele não me tem chamado, acho que não o teria visto.
Mal me afastei logo dou de caras com um choco que teve a amabilidade de se mostrar mudando a cor. Pregou-me cá um susto, ali estava eu a nadar sobre a areia e de repente esta muda de cor e vejo surgir uns tentáculos ameaçadores! Felizmente ele estava apenas a brincar divertido por ver um caboz laranja de cabeça preta a andar por ali. Perguntou-me o que fazia tão longe de casa e eu disse-lhe que queria conhecer outros mundos.
Ele levou-me então numa fantástica visita a sítios que eu pensava não puderem existir e foi-me explicando tudo o sobre cada um deles.
Ele levou-me então numa fantástica visita a sítios que eu pensava não puderem existir e foi-me explicando tudo o sobre cada um deles.
Em primeiro lugar visitamos um Xarroco que vivia entocado numa pedra coberta de limos. Bolas ele é mesmo estranho com aquela boca tão grande. O choco riu-se - Então e eu que tenho os pés na cabeça? -Mas tu não tens uma boca ameaçadoramente grande -retorqui-lhe envergonhado.
- Achas-me ameaçador? Então é porque nunca vistes aqueles bichos com 2 caudas e que andam normalmente lá na superfície. - Ralhou-me o Xarroco.
- Quais? Aqueles que soltam bolhas de ar?
- Esses até nem são maus de todo, apenas um pouco desastrados e mais feios do que eu, esses vêm cá abaixo porque gostam de aqui estar. Sabes que sinto pena deles, pois tenho a certeza que eles queriam ser peixes como nós.
- Deves estar a brincar - interveio o choco - ainda no outro dia o meu primo foi arpoado por um deles.
- Não! Esses são outros, não fazem bolhas e têm um tentáculo comprido ou algo assim, esses vêm cá para nos comer, os das bolhinhas são nossos amigos, só chateiam é quando vêm com umas coisas que dão um relâmpago, que não faço a mínima ideia para que servem.
Contei-lhes que já tinha visto desses, das bolhinhas, e que até os tinha achado simpáticos, tirando lá aquela coisa do relâmpago. Perguntei-lhes de onde eles vinham e disseram-me que vinham lá de cima de onde vem a luz.
- Não! Esses são outros, não fazem bolhas e têm um tentáculo comprido ou algo assim, esses vêm cá para nos comer, os das bolhinhas são nossos amigos, só chateiam é quando vêm com umas coisas que dão um relâmpago, que não faço a mínima ideia para que servem.
Contei-lhes que já tinha visto desses, das bolhinhas, e que até os tinha achado simpáticos, tirando lá aquela coisa do relâmpago. Perguntei-lhes de onde eles vinham e disseram-me que vinham lá de cima de onde vem a luz.
Achei que devia ser maravilhoso viver lá na claridade absoluta, entretanto o caranguejo, que se tinha aproximado para ouvir a conversa disse-me que me levava para me mostrar, pois ele vai lá muitas vezes.
No caminho fomos conversando.
- Nem sabes como te invejo - disse-lhe.
- Olha que nem tudo é bom, para começar esses bichos de quem vocês falam, sujam tudo acham-se os reis e senhores e têm destruido tudo, apesar de alguns deles tentarem defender o mundo, a maior parte só se sente bem a destruir. Olha são bem piores que os Tubarões, esses só matam para comer. Os Homens, que é o nome desses bichos, destroem para ganhar uns papeis e uns discos de metal que guardam como uma relíquia, chamam dinheiro e até parece que é daquilo que se alimentam.
Quando voltei vinha muito triste, vi chaminés a libertarem fumo preto, árvores a serem arrancadas, percebi finalmente de onde vinha aquela porcaria toda que nos tem invadido. O mundo da superfície é muito belo, o caranguejo não me deixou regressar sem ver o pôr-do-sol que é um espectáculo deslumbrante, mas os Homens têm estado a destrui-lo erigindo estranhas formações de coral ligadas por tapetes de pedras que eles atravessam numa correria desenfreada, umas vezes a pé outras dentro de umas caixas metálicas com umas rodas pretas e que para além de fazerem uma grande barulheira também deitam um fumo malcheiroso, para ganharem aqueles papeis e discos de metal, não parando para ver o que ainda de belo lhes resta.
Talvez seja esse o problema deles, como não têm tempo para ver o que é belo, não se importam de o destruir. Porque será que se portam assim? Pensei que fosse da gravidade, que é uma coisa que não sentimos cá debaixo de água e que os cola ao chão, mas o caranguejo disse-me que em terra havia outros animais e que nenhum era como o Homem. Acho que a culpa é mesmo daqueles papeis e discos de metal, não percebo porquê que eles são capazes até de se matarem uns aos outros por causa daquilo.
Fiquem Bem, no Lado Escuro da Lua!
Espectacular! Adorei este passeio, o poder de observação do Caboz, os amigos que foi encontrando pelo caminho, os diálogos que manteve...
ResponderEliminarAs fotos estão lindas (aquele Xarroco, acho que foi o potagonista do meu sonho do outro dia...)
Sem dúvida há algo de paraíso no fundo das águas, sempre me espantou como essa paz contrasta com o mar revolto à superfície - e com as nossa vidas.
ResponderEliminarAbraço!
P. S. Estou a ver que a saúde está a ir ao caminho.
Lélé - Tenho de te agradecer, pois foi uma inspiração que me deste que levou a esta história do caboz.
ResponderEliminarOlha que é invulgar sonhar com um xarroco, ainda tentei ver se conseguia encontrar alguma explicação, mas nada. Se calhar fostes a primeira pessoa a ter esse sonho.
Klatuu - Nós seres agrilhoados pela gravidade e pelo correpio das nossas vidas, quando lá estamos experimentamos uma profunda paz. Talvez o regresso ao utero materno também seja um factor que nos influencia.
ResponderEliminarTambém há o mistério, o desconhecido, o facto de estarmos a aventurar-nos noutro mundo, a maior parte das pessoas não sabe mas o fundo do mar é menos conhecido pelo homem do que o espaço.
Nem me apetece escrever nada para não estragar a magia deste mergulho.
ResponderEliminarGrata pela partilha, vir aqui é das melhores terapias que conheço.
Beijos
Micas - Se todo o mundo deixasse de lado a cegueira do dinheiro e olhasse para a beleza que existe neste planeta, por certo que muita coisa mudaria para melhor nesta bolinha azul.
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