Imponente, a Catedral de Palma de Maiorca, domina as vistas. A altura das suas torres, as mais altas de Espanha, desafiam o facto de estarmos numa ilha.
Por todo o lado há alguém a tentar vender algo, quadros,
malas, sapatos, recuerdos… também há artistas de rua, que fazem pinturas,
performances, homens/mulheres estátuas e o estranho casal que levita numa
armação bem disfarçada. Houve-se uma viola tocando o concerto de Aranjuez, o
sol é abrasador, apesar dos jactos de água que caem no lago que fica no sopé da
catedral o calor torna-se pesado enquanto o sol procura a sua posição mais
alta, como que para ver melhor todo o esplendor que se estende por baixo.
Uma brisa levanta-se, embala as folhas das palmeiras que
alegres fazem coro aos acordes da viola do virtuoso artista de rua que a
dedilha alegremente.
Ao virar de uma esquina os
olhos preparam-se para abraçar o mar, quando uma figura enigmática rompe a
paisagem chamando a si as atenções.
Agarrando a larga borda azul do chapéu que o vento tenta em vão retirar para descobrir o seu rosto sereno, deixando o alvo vestido ondular ao sabor deste, ora mostrando ora ocultando as suas formas perfeitas. Pequenas rendas orlam as extermidades das curtas mangas, como se brancos lírios lhe ornamentassem os braços firmes e maduros.
Olha fixamente para o Mar,
não se deixando distrair com as mundanas figuras que cruzam a rua. Por momentos o tempo pára, tudo fica estático,
congelado. Apenas ela continua a mover-se naquela forma misteriosa, ondulando
como o vento, provocando um pesado suspiro de paixão.
O roxo das Buganvílias contrasta com o verde e o amarelo
dominantes, traçando um friso colorido no topo do muro desta casa com singelas
varandas e venezianas verdes.
As palmeiras omnipresentes compõem a moldura muito acima das
luminárias que quase passam despercebidas. Ali numa muito camuflada esquina uma
cascata de belas flores azuis vai descendo pela trepadeira que cobre por
completo o muro que delimita a propriedade e dá suporte ao socalco que aplainou
o espaço onde esta moradia se ergue.
O calor continua opressor, pesado e húmido, convidando a uma
paragem para refrescar.
Que melhor local para fugir à canícula que a Plaça de la Feixina, com os seus lagos e cascatas, sempre com a água correndo, mergulhando aqui e ali debaixo das pedras do passeio, para surgir uns metros à frente mais fresca.
As amplas sombras do arvoredo auxiliam no arrefecimento,
enquanto acenam para a água embaladas pela aragem que atravessa a ilha de norte
para sul.
Convidando a uma paragem para descansar as pernas e
arrefecer os músculos enquanto se contempla o escoar do tempo na sombra do
relógio de sol, ali instalado numa das faces de pirâmide de pedra, noutra surge
um enigmático relógio de lua, com a sua tabela de legenda e descodificação.
Os muros do castelo opõem-se à linha das palmeiras deixando
no seu regaço um largo passeio de pedra.
Ali surge novamente a bela silhueta alva, agora dança,
alegre, feliz, deslumbrante. Rodopia de braços abertos abraçando o vento numa
valsa ensurdecedora de silencio. Baila com o calor e com as gotas de humidade
que pairam pelo ar arrastadas desde as cascadas pela suave brisa estival.
Continua misteriosa a forma como se move, como dança, como
caminha. A harmonia instala-se, todo o quadro ganha uma formosura singular, até
a catedral estica as suas torres por entre as palmeiras para observar este
pitoresco panorama em movimento, esta poesia silenciosa e serena.
Abraço a beleza do quadro e regresso ao navio, sou um marinheiro, um homem do mar, apaixonado pela doce silhueta alva que misteriosamente se movimentava, ora caminhando, ora dançando.
Contemplo a linha do casario que se estende entre as verdes colinas e o azul do mar, a multitude de embarcações que descansam na grande marina, os paquetes luxuosos que preparam a partida para o alto mar.
Tudo parece pacífico, sereno, nem o vento se sente agora.
Sinto uns braços a me envolver, um doce perfume invade-me as
narinas e o doce som de uma voz faz-me estremecer.
Lentamente viro-me, perante mim está a delicada figura alva com que me cruzei uma e outra vez durante o dia.
A noite caiu, não sentimos o sol esgueirar-se sob as ondas
distantes, inebriados pelo tão inesperado como anunciado encontro. Os nossos
olhares não se desviaram durante as longas horas em que o glorioso astro
atravessou os céus.
Fiquem bem no lado escuro da Lua.
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