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Fundamentalmente o atirador aponta para si próprio.
O Zen na arte de manejar o arco
Resolvi, 24 anos depois, voltar a praticar tiro com arco. Estava a comprar comida para os cães na Decathlon e dei de caras com os arcos e as flechas, já lá os tinha visto, mas naquele dia, vá lá saber-se porquê deu-me com força.
Ainda guardava religiosamente o meu velhinho equipamento, pelo que apenas precisei de comprar o alvo, uma corda nova e penas novas para as flechas (o plástico com os anos tornou-se ressequido e quebradiço). A primeira constatação foi que houve uma redução para metade da potencia dos arcos, penso que devido ao menor peso das flechas de carbono.
O tiro com arco é o meu desporto favorito fora de água. Sempre me transmitiu uma profunda paz, recentemente li alguns textos retirados do livro "
O Zen na arte de manejar o arco" (que nunca consegui encontrar à venda) e comecei a perceber que esta era de facto uma forma de meditação. Ao nos concentrarmos nos movimentos, na respiração, na mira e no alvo, tudo o resto deixa de existir e a nossa mente fica limpa de tudo atingindo um estado de meditação pura.
Já realizei muitas formas de meditação, desde concentração na respiração até à pura observação do mar ou de um jardim de seixos; nadar é outra forma que uso para meditar, a concentração nos movimentos e na respiração também apagam do meu cérebro todo o ruído que muitas vezes acumulamos durante o dia.
Antes de ontem estava a sentir-me tão bem, com tanta serenidade, que quando finalmente resolvi parar vi que tinha arrancado a pele dos dedos. Sentia algum incómodo mas nada que se sobrepusesse ao prazer que estava a sentir. Cada inspiração provocava uma sensação idêntica à que sentimos quando bebemos um copo de água quando temos muita sede. Esta é a melhor maneira de definir aquilo que sentia. Nada me passava pela cabeça, exceptuando os procedimentos de manejo do arco, perdi mesmo a noção de mim e durante algum tempo senti-me como se fosse a flecha e o arco numa harmonia perfeita. durante esse tempo era como se não existisse.
Esta noite, antes de vir para aqui, estive a lançar umas flechas e coloquei a câmara a filmar e fotografar (a foto de cima foi tirada nessa altura) no sentido de ver se os movimentos estavam correctos, acabei por me deixar embalar e apesar da soprar uma brisa fresca ainda lá estive uma hora, lançando 3 flechas, pousando o arco, uma pequena caminhada para ir retirar as flechas e novamente lançar mais 3 flechas. Sinto-me em paz, apesar de todo o tumulto que atravessa a minha vida.
Fiquem Bem, certeiros no Lado Escuro da Lua!