sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Europe Endless

Os tambores da guerra soam cada vez mais alto. Mas estamos surdos, acomodados a uma ideia com 80 anos de que a guerra nunca mais atingiria a Europa. 
No entanto ela está aí,  a Rússia invade a Ucrânia,  os actos de sabotagem contra a Europa vão se multiplicando. 

Se olharmos para trás vemos as semelhanças com 1938, sistematizando: 

1938 Hitler invade os sudetas com o argumento que a população alemã é perseguida e discriminada.

2014 Putin invade a Crimeia com o argumento que a população russa é perseguida e discriminada. 

1939 Hitler toma o resto da Checoslováquia porque... coiso.

2022 Putin ataca a Ucrânia porque... coiso.

1938 Hitler anexa a Áustria sem disparar um tiro. 

2000 Putin reforça o controlo da Bielorrússia com um palhaço como presidente. 

O resto do que se passou no séc. XX já sabemos, falta saber o que se vai passar daqui para a frente. 

Ok, a Ucrânia não caiu, pois foi um erro de cálculo, nem Putin nem ninguém esperava que Zelinsky, um comediante eleito presidente, tivesse tanta fibra e tanto carisma. Também não era espectável que o povo ucraniano resistisse de forma tão aguerrida. 

Putin também não contava que o seu amigo Trump perdesse as eleições, o que adiou em 4 anos os seus planos. 

Putin, tal como Hitler tinha feito 80 anos antes, afirma que as suas pretenções territoriais eram apenas a Crimeia, Donbass e Donetsk, e hoje já juntou Kerson e ... Tenho a certeza que irá acrescentando territórios enquanto lhe deixarem até atingir o desígnio da mãe Rússia - estender-se de Vladivostok até Lisboa! Não! Não estou a inventar ainda não há muitos meses o seu n2, fazia essa afirmação literalmente. 

Os astros voltam a alinhar-se para putin, Trump ganha as eleições nos EUA, a extrema direita assoma-se na Alemanha e em França, já se instalou na Hungria e na Eslováquia pode bem juntar Romênia ao grupo. Aqui no burgo já são a terceira força política.

Por falar nos Cheganos, aquela cáfila mente descaradamente, se um dia chegarem ao poder rapidamente passariam a ser os amigos do Putin. 

Deixo aqui a música dos Kraftwerk - Europe Endless, que termina assim 


Elegance and decadence, Europe Endless

Fiquem bem no lado escuro da Lua.

domingo, 17 de novembro de 2024

A Kind of Magic

Musica dos La Caina e Imagens e texto do penúltimo meu próximo livro - Ao Longe o Mar!

Dedicado a ti minha querida Angie!




A noite vai-se aproximando

O sol vai descendo lentamente

O vento vai juntando as nuvens

Como um rebanho de ovelhas fossem

 

As cores do céu vão mudando

As cores do mar também

O vento encrespa o Mar

Fazendo dele milhares de espelhos

O Sol pinta a paisagem

Vai mudando os tons

Vai mudando a luz

Vai trazendo a paz

Vai acariciando a alma dos homens

Vai transmitindo a magia do dia

Vai chamando o crepúsculo

Vai antecipando a terna noite


As ondas vêm brincar para a praia

Vêm dançando enrolar-se na areia

Dançam com o vento, com as nuvens

Fazem os Homens sentir-se poetas


Trazem com elas a maresia

Que nos inunda o olfacto

Levada pelo vento

Espalha-se pela terra

 


 Sinto-me a bailar

A bailar com o vento

A dançar com as ondas

Rodopiando na areia


 Sinto-me um poeta

Sinto-me um mágico

Sinto-me um pintor

Sinto-me um músico

 

Ali fico a respirar

Aquele ar salgado do mar

Perco a noção do tempo

Perco o lugar do espaço

 

Sacudo a areia dos pés

Seco a água do cabelo

Esfrego o sal da pele

E em paz retorno ao lar

Fiquem bem no lado escuro da Lua.

sábado, 2 de novembro de 2024

Sagres


Há lugares no mundo que deixam uma marca profunda na nossa alma, Sagres sempre me fascinou, foram inúmeras as vezes que a visitei por terra, só ou acompanhado, o promontório e o cabo "onde termina o mundo", este sempre foi um local quase místico. Aliás para os povos da antiguidade era mesmo um lugar místico. Os Celtas chamaram-lhe o promontório dos Deuses. Outros povos achavam que era ali que o mundo terminava, era ali que começava o mar das trevas.

O Infante mudou tudo isso, mas a mística ficou agarrada àquelas pedras de forma indelével. Em todo o lado sente-se o peso da história, nas muralhas, nas velhas caraças dos canhões gastas pelos anos e pelo salitre, nas paredes do velho templo, na misteriosa rosa dos ventos, nas furnas que descem até ao mar pelo ventre da terra.

Mais a oeste vislumbra-se o cabo de S. Vicente com o seu farol, o ponto mais a sudoeste da Europa, a ponta do velho Continente que aponta para o Novo Mundo, entre ambos uma enseada com vários recantos e um charmoso Castelo hoje transformado numa unidade turística.

Mas nada do que se vê de terra é mais esmagador que a vista a partir do mar! A primeira vez que admirei esta paisagem a partir do reino de Neptuno, foi a bordo do paquete Funchal. Ainda hoje, passados 35 anos, revejo esse momento com uma claridade cristalina. Estávamos a jantar, pelas janelas comecei a ver desfilar a praia da Bordeira, depois o Castelejo, não esperei mais, saí para o convés e debrucei-me na amurada. Ouvia-se Wagner, os penhascos erguiam-se altivos, deslumbrantes à luz do pôr do sol, o navio aproximou-se tanto como as regras de segurança permitiam, deixando os mais pequenos pormenores ficarem expostos aos meus olhos.

Aos poucos fomos contornando o cabo de São Vicente e dirigindo-nos para Sagres, Wagner continuava a tocar pelas colunas do navio, olhei à minha volta, estava só contemplando a mais bela paisagem que jamais vira.

Dias antes tinha visto um rosto que também havia marcado a minha alma, tinha aparecido e depois perdera-se na multidão que preenche as ruas nas noites estivais de Lagos. Receei não mais voltar a rever tão marcantes imagens. Fiquei por ali, a noite caiu fiquei apreciando as luzes do Algarve: Burgau, Luz, Lagos, Alvor, Portimão…

Perguntei-me se voltaria a ver Sagres do mar… e aquele rosto lindo de morrer. Voltei para Lagos procurei-a, não mais a vi.

16 anos depois voltei a cruzar aquelas águas, desta vez no meu pequeno veleiro, voltei a procurar aquele rosto fugidio no meio da multidão. Sagres vista do mar voltou a mostrar-se em todo o seu esplendor num mar estanhado, lá em cima pareceu-me vê-la! Toquei a sirene, abanei freneticamente os braços... Não. Não era ela, tenho agora a certeza.

Passaram outros 16 anos, olhando para um quadro de fotos em casa de alguém que conhecera há poucos dias, volto a rever aquele rosto fugidio! Aquela cujo rosto para sempre ficou gravado na minha alma como as imagens daqueles rochedos imponentes.

Redijo estas linhas a seu lado, contemplo o seu rosto sereno e belo. A noite vai adiantada, não tarda estarei abraçado a ela no nosso leito, sonhando com uma viagem a seu lado contemplado aquela paisagem divina uma vez mais.


Fiquem bem no lado escuro da Lua.