As ondas desfazem-se na areia elaborando uma pintura surreal com a sua espuma branca e cantando uma melodia de amor em tons graves. O vento acaricia-as deixando atrás uma nuvem de água. Um pequeno barco aproxima-se traçando uma linha branca no azul profundo do mar, vem vazio, nem as gaivotas se importunam a visitá-lo. Aqui e ali uma gaivota passa a rasar as águas, 2 surfistas baloiçam nas ondas, apesar do frio intenso que se faz sentir sinto-me tentado a ir também para lá. A minha mente recua no tempo nostalgicamente.
São 10 horas do dia 3 de Janeiro de 2009 em Sesimbra. Dirijo-me para o barco. Subitamente começa a chover apesar de ter estado um dia de sol; cumprimento a chuva, é a antecipação da entrada nos domínios de Poseidon, um aperitivo. Entramos na água, está turva, muito turva, vê-se pouco mais de 5 metros. Descemos felizes apenas por ali estarmos, um cardume de sargos surge no meio da suspensão como se fossem fantasmas no nevoeiro de um cais assombrado.
Um bodião vem acompanhar-me e conduz-me até uma bela esponja amarela contando-me que já foram conhecidas pelo ouro do mar. Na penumbra admiro-a, admiro o silencio que me rodeia, a imobilidade, o ser e o não ser daquela criatura tão estranha e ao mesmo tempo tão familiar.
Sigo-o pelo fundo do mar e por entre algas e medusas acabo por vislumbrar uma magnífica gorgónia. Contemplo um a um os seus frágeis braços de uma bela filigrana. Perco-me por entre aquelas hastes ondulantes na corrente, sinto-me integrado naquele mundo, naquela beleza, naquela serenidade.
Mais abaixo vejo um caranguejo que tenta desesperadamente esconder-se da luz que é projectada pela minha lanterna, fico ali uns momentos e tento convencê-lo que não estou ali para lhe fazer mal. Agradecido, deixa-se fotografar, a calma volta a invadir o fundo do mar, os bodiões, as judias, os sargos, passeiam à minha volta naquela atmosfera quase fantasmagórica.
Sigo-o pelo fundo do mar e por entre algas e medusas acabo por vislumbrar uma magnífica gorgónia. Contemplo um a um os seus frágeis braços de uma bela filigrana. Perco-me por entre aquelas hastes ondulantes na corrente, sinto-me integrado naquele mundo, naquela beleza, naquela serenidade.
Mais abaixo vejo um caranguejo que tenta desesperadamente esconder-se da luz que é projectada pela minha lanterna, fico ali uns momentos e tento convencê-lo que não estou ali para lhe fazer mal. Agradecido, deixa-se fotografar, a calma volta a invadir o fundo do mar, os bodiões, as judias, os sargos, passeiam à minha volta naquela atmosfera quase fantasmagórica.
Poisam-me um café ao lado, despertando-me desta viagem ao passado. O cheiro dele associa-se à maresia e deixa-me inebriado, junto-lhe um pau de canela, os cheiros acentuam-se, não resisto mais e bebo-o com prazer.
Volto a contemplar o mar, as ondas continuam a desfazer-se preguiçosamente na areia. O pequeno barco já desapareceu, os 2 surfistas continuam ali embalados pelas vagas e eu sinto-me em paz, feliz por ali estar, por desfrutar aquele momento. Rezo uma oração de agradecimento a todos os deuses que a humanidade já honrou, à natureza, ao Universo, na forma de um poema de Sophia de Melo Breyner:
Volto a contemplar o mar, as ondas continuam a desfazer-se preguiçosamente na areia. O pequeno barco já desapareceu, os 2 surfistas continuam ali embalados pelas vagas e eu sinto-me em paz, feliz por ali estar, por desfrutar aquele momento. Rezo uma oração de agradecimento a todos os deuses que a humanidade já honrou, à natureza, ao Universo, na forma de um poema de Sophia de Melo Breyner:
Eu me perdi
Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Polícia agiota fariseu
Ou cocote
Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra
Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar
Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Polícia agiota fariseu
Ou cocote
Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra
Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar
Não se percam no Lado Escuro da Lua!
Obrigado pela tua visita e desejo de um Bom Ano para toda a família.
ResponderEliminarSó agora tive conhecimento desta tua nova envolvência mas, desde já, desejo-te a maior sorte do mundo. É um projecto fantástico.
Bjt
Saudades de Sesimbra, foi lá que passei a maior parte dos meus verões até à adolescência, quando troquei essas praias pela Fonte da Telha, onde as águas eram mais "agitadas" hehe Beijos
ResponderEliminarNão sei se entendi, mas o que estas a postar faz parte do projecto do teu livro?
ResponderEliminarSe assim é acho que vai ficar lindo, as fotos são lindas, depois o que vais descrevendo,
com simplicidade é o que sentes quando estas no meio desse mar maravilhoso, então só pode sair um livro lindo, onde as tuas experiencias e o teu sentir vão dar brilho ao que editares.
beijos
Compreendo a tua paixão pelo mergulho, mas com o tempo que está, nem se lá embaixo estivesse a Nicole Kidman nuinha eu me metia na água!
ResponderEliminarAbraço!
Você é um homem riquissimo na emoção, nas palavras, na forma graciosa e única como diz o que vê. Seja qual for o seu projeto de vida, com esse coração, tenho certeza de que tudo dará certo.
ResponderEliminarBeijUivoooooooooossssssss da Loba
Voltei.
ResponderEliminarNão me canso de ver estas fotos.
É o nosso MAR,
Bjt
Isabel - As coisas estão a encaminhar-se, vamos lá ver se tudo corre bem.
ResponderEliminarMoura - Sesimbra, Fonte da Telha e Algarve - Parece que frequentamos os mesmos lugares em épocas diferentes.
ResponderEliminarMultiolhares - A maioria dos textos do livro são os que ponho aqui, há apenas um ou dois inéditos, de resto são revistos e levam uma ou outra foto nova.
ResponderEliminarEstou a começar um novo livro que vai apenas com histórias passadas em Sesimbra, apesar do primeiro ainda nem ter saído, continuo À procura dos apoios para a edição, pois está uma crise e as editoras só avançam com patrocinios.
Rafeiro Perfumado - Isso é que era uma maldade para a mocinha. É que mergulhar com um fato semi-seco (agora que tenho menos 20 Kg é mais semi do que seco) de 7 mm é uma coisa, agora nuinha é muito agreste. Tinha de lá ir bem depressinha para a tirar do frio e depois dar-lhe uma boa massagem para a aquecer:-)...
ResponderEliminarJaqueline Sales - Que os deuses te ouçam! Em especial Neptuno. Agradeço as palavras generosas.
ResponderEliminarIsabel - Volta sempre! O mar estará sempre aqui à espera de quem o Ama.
ResponderEliminarIsso é que foi uma entrada em grande! Maravilha!
ResponderEliminarEstes teus passeios submarinos, até à tona têm sal!
Eu ia perguntar se chovia, lá por baixo, mas, felizmente trouxeram-te o café e assim não precisei fazer figura de ursa...
Tu ilustras mesmo bem!
Parabéns pelas vitórias conseguidas...
À inspiração que trago de cada mergulho, juntei a que me dá a leitura de Sophia de Melo Breyner. Ela tem poemas de facto sublimes.
ResponderEliminarMar, café, mar, canela, mar mar mar...
ResponderEliminartudo perfeito soube bem o calor da chávena na mão gelada não soube!?
beijos
Que saudades de Sesimbra... Aquele pedaço de costa, a serra tem magia e encantamento, é místico , sem dúvida o meu local de eleição, tenho lá amigos e costumo guardar sempre uns dias para lá passar.
ResponderEliminarAqui só nos perdemos no meio de tanta beleza que connosco partlhas. Obrigada. Estou ansiosa que esse livro saia.
Aproveito para desejar um 2009 fabuloso para ti e familia.
Fica bem.
Pearl - Por acaso não estava muito frio, bem os pés começaram a ficar um pouco desconfortáveis, mas ali naquele cantinho abrigado do vento inshore e banhado pelos raios do sol estava-se confortável. Ainda para mais tinha acabado de comer uma daquelas tostas mistas à Cabana, isto é: enooooormes!
ResponderEliminarAgora o odor do café e da canela misturados com a maresia é fabuloso.
Micas - É um dos paraísos da Terra, não sei de vistes um post que tenho feito com fotos à superfície do Portinho da Arrábida em 12 de Setembro de 2008. Se não dá um pulo para veres, se vistes podes sempre lá ir matar saudades.
ResponderEliminarClaro que vi, (sou leitora assidua deste espaço) e na altura re-afirmei a minha paixão por esse paraíso na terra em forma de comentário :)
ResponderEliminarPassar por aqui não é um acaso é um bom vício; vou daqui com a mente relaxada neste bater das ondas.
ResponderEliminarBjnh
Micas - Depois de ter respondido, passei por lá e vi que tinhas comentado. Mas podes sempre ir lá matar saudades.
ResponderEliminarIsabel - Fossem todos os vícios como esse e o mundo era quase perfeito.
ResponderEliminarVim te ver e te deixar flores para jogares nas águas da tua vida, meu querido.
ResponderEliminarBeijUivooooooooooossssssss da Loba
Jaqueline Sales - E bem turvas andam as águas da minha vida.
ResponderEliminarObrigado pelas flores, um beijo!
Belíssimo post.
ResponderEliminarAbraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO
Miguel Barroso - Obrigado pelo comentário e bem-vindo a este espaço. Prometo uma visita em breve.
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