São 10:00 de um Sábado que faz jus ao famigerado Verão de S. Martinho, pois apesar do azul profundo do céu e do mar convidarem a um mergulho, a temperatura não era das melhores. Mas mesmo assim, ou talvez por isso, telefono para a Cipreia, marco um mergulho, preparo tudo e lá arranquei directo a Sesimbra, eram umas 10 da manhã.
Ao chegar, cumprimentos, apresentações, preparação do equipamento e finalmente lá estamos a bordo prontos para sair.
O mergulho em si mesmo foi fabuloso. A visibilidade de por volta de 10 metros, a vida que encontramos, o sol, o estado do mar, numa palavra - TUDO estava quase perfeito.
Cardumes de Sargos, Salemas, Taínhas e Robalos vieram dar-nos as boas vindas assim que entramos dentro de água.
Sentia-me calmo como aquela estrela do mar que placidamente me observava. Por momentos parecia estar no Mar Vermelho, não fosse a temperatura da água, que não passava dos 15º e a visibilidade que sendo bastante boa para Portugal não tem nada a ver com o que podemos observar a sul do canal do Suez.
Vários Pargos passaram por nós e deixaram que nos aproximássemos de uma forma como nunca tinha visto. Perguntei se não tinham medo de nós, eles responderam que desde que foi criado o parque nacional de Sesimbra e proibida a pesca já não têm receio dos homens.
Tive de reconhecer que estava errado quando achei que criação desta reserva iria ser um fiasco. De facto estava ali bem patente a prova que o homem pode atingir o equilíbrio com a natureza. E que ela é pródiga em recompensar as boas práticas. A cada mergulho observo um incremento da fauna e flora em Sesimbra, provando que o Parque Natural é de facto uma mais valia. Era bom que outros Parques destes proliferassem pelo país, pelo mundo.
Era bom que parasse-mos as agressões ao meio ambiente e encontrasse-mos uma forma de viver em harmonia com ele.
Mas depois pensei, como será possível o Homem ter paz com a natureza se não têm com ele próprio?
É um sonho utópico pensar que um dia poderemos viver em equilíbrio com o planeta se não encontrarmos primeiro uma via para estarmos em paz com o nosso semelhante. Guerras, assassínios, processos de intenção, conjuras, difamações, discussões... Parecem estar indelevelmente marcados na natureza humana.
Ou então é apenas uma característica de alguns. Sim isso é o mais provável, nem todos os seres humanos são mesquinhos, existem pessoas que tentam atingir a felicidade só por si próprios, que a simples contemplação de um pôr-do-sol é mais do que o suficiente para se sentirem em paz, que oferecem mais do que pedem, que ajudam os outros de uma forma abnegada e altruísta.
Um polvo mais atrevido acabou por escapulir para debaixo do colete do meu buddy, demonstrando isso mesmo.
O buddy que me calhou desta vez foi, seguramente, um dos melhores que tive até hoje, não só os conhecimentos acumulados em 40 anos de mergulho, como a calma e os truques de uma longa vivência com o mar.
De facto nada substitui dezenas de anos de experiência visíveis em cada gesto, em cada observação, em cada conselho. Senti-me um iniciado e, no entanto, uma ainda mais profunda paz me invadiu, dei comigo a tomar atenção a pormenores que normalmente me escapam, sempre preocupado a ver se não me perco do buddy enquanto fotografo aquela anémona que me chamou a atenção.
Sabe muito bem mergulhar com quem tem tanta experiência e que vai lá para baixo com uma calma maior do que a nossa. Normalmente os mergulhos são a correr, pois a malta mais nova quer ver mais e mais, sempre com pressa, sempre com stress, muitos esquecem-se do buddy que parou para fotografar uma estrela do mar, poucos como o Octávio nos chamam para observarmos essa estrela do mar.
A minha profissão é uma das principais responsáveis por isso, de facto 3 anos é uma eternidade em termos de desenvolvimento informático, rapidamente os mais velhos são ultrapassados pelos mais novos, a experiência pouco conta, pois tudo esta em constante mudança. Por isso muitas vezes sinto-me tentado a ir na maré da novidade, do que é velho não presta, para logo a seguir me arrepender. Devemos ouvir sempre a voz da experiência, dos mais velhos, daqueles que já viveram mais anos e que acumularam por isso uma bagagem superior à nossa.
Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!
Certamente você está mais rico, mais espiritualizado, mas completo após os mergulhos e os contatos com a natureza na sua forma mais selvagem. Na água, adentrando a morada do Deus Netuno, é necessário apenas olhar, perceber e sentir a presença forte e radiante da vida em todos os lugares por onde nossos olhos alcançam.
ResponderEliminarObrigada, amigo. Que Deus te dê ao cubo todas as boas manifestações de amizade sincera que só
o seu coraçãozinho tem pra dar.
BeijUivoooosssssss da Loba
"Metade da minha alma é feita de maresia"
ResponderEliminarSophia de Mello Breyner Andreson
Obrigada pela partilha de mais um magnífico mergulho.
Beijos
Espectacular!!
ResponderEliminarFoi aqui que publiquei o texto, cometi o erro de não escrever imediatamente após o mergulho e os problemas da superfície começaram a tomar conta do meu espírito.
ResponderEliminarMas voltei a recuperar a paz interior, Café del Mar é outro dos remédios, juntamente com um pouco de meditação é um remédio santo contra os maus sentimentos que nos projectam.
Fiquem Bem!
Jaqueline Sales - Obrigado pelas tuas palavras, espero poder estar sempre à altura de ser merecedor delas.
ResponderEliminarGabrielle - Adorei esse poema. Já li algumas coisas de Sophia de Mello Breyner, nunca o tinha lido. É lindo, acho que o vou adoptar.
ResponderEliminarObrigado por o partilhares aqui.
Moura ao Luar - Obrigado, mas a beleza lá em baixo é tanta que o mais difícil é trazer algo que não seja espectacular para a superfície.
ResponderEliminarMas garanto-te o mais espectacular mesmo é estar lá, viver aqueles momentos submersos, mas isso é impossível de reproduzir.
as fotos estão fantasticas
ResponderEliminare tu quando estas no fundo do mar, estas em casa
beijos
Multiolhares - De facto o fundo do mar é como se fosse a minha casa. Ando até um pouco deprimido pois vou ter de declinar um convite para ir mergulhar no Sudão, no local onde o Cousteau montou a sua aldeia submarina, a Précontinent II.
ResponderEliminarMaldita crise!
Ainda pude mergulhar nessas águas... e molhei com a tua alegria o meu rosto medroso de tanta beleza.
ResponderEliminarBeijUivooooooooossssss da Loba
O ser humano faz parte da Natureza!... Em algum ponto no tempo ele decidiu apartar-se dela e, como isso não era possível, virou-se contra ela, ou seja, contra si próprio... Mas ainda assim, faz parte da Natureza...
ResponderEliminarO homem pode atingir o equilíbrio com a natureza desde que aprenda o verdadeiro signifícado da palavra "respeito". Pena que a maioria dos homens ainda não tenha percebido que nunca será nada enquanto não souber respeita a natureza pois só dela depende a sua especíe. E não há velhos, há sábios com quem devemos aprender ;)Felizmente ainda vai havendo pessoas como tu para doutrinar aqueles que pensam ser os donos do mundo...tarefa difícil mas que tens feito extremamente bem e à qual junto o meu "grito" também. Um grande Bem Haja a ti.
ResponderEliminarE como sei que adoras o mar, lê a Sophia de Mello Breyner, uma das pessoas que melhor soube dizer o "mar".
Grata pela partilha Nitrox, como sempre adorei este mergulho apaziguador.
Jaqueline Sales - De facto quando mergulho sou feliz. Não precisas de temer esta beleza que para aqui trago, esta é uma beleza pura, tal como a beleza interior.
ResponderEliminarA relação entre o Homem e a natureza é cheia de equívocos, o Homem acha que consegue dominar a natureza, mas no fim acaba dominado por ela. Julga-se diferente dos restantes seres, apenas porque consegue criar artigos tecnológicos, mas no entanto tem tanto a aprender com eles.
ResponderEliminarMicas - Obrigado pelas bonitas palavras e pela sugestão, não tenho muito tempo para ler, a poesia também não é a minha leitura favorita. Mas Sophia de Mello Breyner sempre me encantou, leio aqui e ali um poema dela e fico sempre extasiado. Como aquele que a Gabrielle aqui deixou, lindo...
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