Dedicado ao Klatuu
Fui visitar uma floresta de laminarias. Por lá andava um Ruivo muito atarefado na busca de alimento esgravatando o solo com as suas patas, acho-o um peixe muito lindo, não sei bem porquê mas associo-o às Poupas, talvez pelas exuberantes barbatanas, pelo seu comportamento esquivo, não sei mesmo. Encontro-os em diversos locais, são abundantes na nossa costa e dão uma coloração diferente à nossa fauna.
Mergulhar com garrafas tem destas vantagens, temos tempo para observar, reflectir e tirarmos conclusões que às vezes poderão parecer surpreendentes.
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Não me canso de repetir que o mar é algo de central na minha vida, preciso tanto dele como quase de respirar, aliás se estiver longe dele durante algum tempo começo a sofrer de ataques de asma.
Ao observar o Ruivo abrindo e fechando as barbatanas enquanto se deslocava junto ao fundo, uma torrente de pensamentos fervilhou no meu cérebro.
Pensei em toda a beleza que existe debaixo das nossas águas, na graciosidade dos seres que as habitam, na sorte que temos em possuirmos uma tão vasta e diversificada costa.
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Observando o sol a ser filtrado pelas águas límpidas lembrei-me da nossa grandiosidade, das razões que levaram este pequeno país a ser o dono do mundo, a dar ao mundo uma área maior do que a que era conhecida até então. Enchi-me de orgulho, um genuíno orgulho de ser PORTUGUÊS, que nada tem a ver com o trauliteirismo alarve que acompanha os feitos futebolísticos e que muitos confundem com patriotismo.
Nesse momento uma profunda melancolia assalta-me.
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Um polvo interroga-me acerca da súbita mudança de humor. Respondo-lhe que me estava a lembrar da grandiosidade do Império e da ruína em que se transformou.
O polvo está para o mar com o mocho para a terra, é um dos guardiões da sabedoria. Disse-me que mais triste do que o desmoronamento de um Império, é a perda de identidade. Concordei, pois tirando a euforia bacoca que se vive durante as competições futebolísticas, perdemos a noção de patriotismo e o orgulho de um passado grandioso, talvez o mais grandioso da humanidade.
O Polvo acabou por me dizer que de facto o nosso foi o Império menos sangrento da história, nenhum Império se constrói sem sangue, mas no nosso uma boa parte dele foi substituido por água salgada.
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Acabei por concordar com tão brilhantes argumentos. De facto em vez de conquistarmos terras à espadeirada, fizê-mo-lo sulcando os mares. Em vez das lanças e dos canhões usamos bússolas e sextantes. Claro que existiram batalhas sangrentas, mas se pensarmos nos Impérios de Alexandre o grande e de Júlio César entre outros, vê-mos até que ponto fomos pacíficos.
Terá sido esse o nosso erro? O Espirógrafo branco não concorda, as razões não podem estar com a barbárie, tens de as procurar noutro lado.
O computador indica-me que está na altura de subir, realizar a paragem de segurança de 3 minutos a 5 metros e regressar à superfície. Apercebo-me que apenas tinham passado 45 minutos, mas lá em baixo o tempo parece parar. Lanço a boia de patamar e relutantemente inicio o regresso à superfície despedindo-me do Ruivo, do Polvo e do Espirógrafo.
Fiquem Bem, no Lado Escuro da Lua!