Praia do Porto de Mós em Agosto de 2004
Ontem depois de todas as confusões que arranjaram com o electrocardiograma vi-me perante a perspectiva de algo não estar bem a nível do coração e inevitavelmente a ideia da morte acabou por ser considerada. Não senti medo, nem temor, apenas me senti incomodado. Sim pois é a única certeza que temos ao nascer, um dia morreremos, é inevitável e todos nós devíamos encarar esse facto como algo de normal.
Tenho de confessar alguma curiosidade para saber o que há depois, por isso não encaro a morte de uma forma aterradora. É mais uma interrogação, quase como uma aventura. Só que na maior parte das aventuras podemos sempre regressar e nesta é uma viagem sem volta. Por isso não a temendo, também não a desejo, assim tipo amor e ódio.
Aqui há uns tempos comecei a ler o Livro Tibetano dos Mortos, não o concluí, tal como muitos outros pois muitas vezes perco a vontade de ler seja o que for. Não sei porquê que tal acontece mas de vez em quando tenho uma grande vontade de ler e devoro livros uns atrás de outros para depois passados dias nem me lembrar que existem livros. Digamos, até para não fugir ao assunto, que a vontade de ler morre dentro de mim, assim abruptamente, para depois renascer como uma Fénix.
Em relação aos outros sinto pena, quer dizer, é mais sentir a sua falta, mas não sou capaz de chorar num enterro, não o fiz na morte do meu pai. De facto não sei descrever o sentimento que se apoderou de mim, não fiquei arrasado, apenas triste pela perda, é estranho agora à distância mas para mim foi o contacto com a inevitabilidade. Aliás sinto hoje mais a falta dele do que naqueles dias, é a saudade, é a falta daquela pessoa com quem podia desabafar e que dava sempre o conselho certo, ou pelo menos o mais avisado.
Aqui há uns anos sonhei com o meu pai, sonhei que eu estava prestes a cometer uma asneira enorme e o meu pai assomou-se à porta e sorrindo fez-me sinal de não com o dedo. Nessa altura como em muitas outras no passado não lhe liguei e o resultado foi desastroso sofri imenso, mais do que alguma vez em toda a minha vida. Ainda hoje sinto uma grande dor na alma por tudo o que se passou.
Mesmo depois de ter morrido o meu pai continuou a dar-me conselhos, portanto de facto ele está comigo, pode ter morrido mas não desapareceu, nem desaparecerá. Eu prometo é que irei sempre seguir os conselhos dele daqui para a frente.
Fiquem Bem!