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Naquela manhã quente de Setembro o termómetro indicava 35º e foi com algum sacrifício que vesti o meu fato semi-seco. A viagem de barco até à Ponta da Passagem foi célere mas mesmo assim ansiava o momento de rolar de costas rumo ao azul mais do que me é habitual.
Por fim o tão esperado momento mágico em que abandonamos o peso da gravidade e entramos no reino de Nereu.
Em contraste total a água estava fria, não passando dos 17º, foi com um alívio duplicado que senti a temperatura do neoprene descer rapidamente, avistei um cardume de sargos passeando pelo topo das rochas mais altas, olhando para baixo vi uma medusa ondulando os seus tentáculos na corrente e dou comigo a pensar que não consigo encontrar no fundo do mar uma criatura mesquinha como as moscas ou certos seres humanos.
A medusa adivinhou os meus pensamentos e disse-me para não olhar para ela, pois chatas eram as rémoras.
O pepino do mar sarapintado de pontos brancos avançou que mesmo assim elas apenas se colam aos peixes maiores e fazem-se passar por importantes, alimentando-se dos restos que estes deixam.
Eu acabei por acrescentar que lá em cima existem pessoas parecidas mas ao contrário das rémoras que apenas são uma preguiçosas e mandrionas essas juntam a esses predicados a maldade.
-Estás a pensar em alguém especificamente? - Perguntou-me o pepino.
-Não! Quer dizer talvez, mas não quero trazer esses seres para aqui para debaixo de água.
Um bodião-reticulado aproximou-se e segredou-me ao ouvido que talvez fosse uma boa ideia trazê-los mas sem garrafas!
-Não! Além de tudo sou um ecologista e isso de trazer lixo da superfície cá para baixo deixa-me horrorizado. Depois era dar muita importância a quem não a merece. Era bem melhor dar-lhes uma mão e apoiá-los a progredirem como seres humanos, mostrando-lhes que o caminho para a felicidade está dentro de nós e no AMOR e não no ódio nem na inveja.
Um sargo aproveitou a deixa e entrou na conversa.
-Porquê que vocês são assim? Quer dizer alguns de vocês.
-Não sei. Acho que ainda não viram a beleza do mundo, olham para os outros e invejam a sua felicidade e fazem tudo para que a destruir de maneira a ficarem também eles infelizes.
-Mas tu como consegues ser feliz? A vida até nem tem sido particularmente simpática, no entanto aqui estás sempre com um sorriso, sempre feliz.
-Sabes bem que nem sempre é assim mas eu tento sempre procurar a felicidade, mesmo nos momentos de mais completo desespero, acabo sempre por encontrar um par de minutos para contemplar o Oceano e sentir-me feliz por estar ali a inspirar o salgado sabor da maresia.
Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!
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