
Tenho andado sem inspiração e também com alguma falta de tempo. Desde que regressei tenho tido várias coisas para organizar e embrenhei-me na leitura de um livro verdadeiramente fantástico, ao ponto de reler cada frase e para frequentemente para assimilar toda a informação e apreciar o raciocínio daquele que é seguramente o meu maior ídolo.
Esse mesmo
Jacques Cousteau!
Antes desse livro já tinha lido de Ian Flemming (um autor que gosto muito)
Dr. No - foi a primeira aventura de 007 a ser passada para filme, antes tinha lido de Sebastian Faulks -
A Essência do Mal - um livro comemorativo do centenário do nascimento de Ian Flemming,
Mergulho e Fauna Subaquática das Ilhas Berlengas de Fernando Morgado, Juliana Gadelha, Marta Pimpão e Amadeu Soares, várias revistas entre as quais
Planeta d'Água,
Imersões, Portugal Dive, Exame Informática, etc e estive a ler a título de consulta o
Manual de Tiro con Arco de Kathleen M. Haywood e Catherine F. Lewis (versão espanhola) e
A Biblia da Meditação de Madona Gauding. Como podem ver tenho andado algo ocupado, destes livros falarei mais tarde, por agora vamos ao melhor de todos:
O Homem, a Orquídea e o Polvo, de
Jacques Cousteau e
Susan Schiefelbein, foi dos melhores livros que já li e posso recomendá-lo como um título obrigatório. Escrito nos seus últimos dez anos de vida em colaboração com Susan Schiefelbein, para mim uma ilustre desconhecida, mas que rapidamente me cativou pela forma entusiasmada como escreve, devendo-se a ela uma introdução e uma actualização sobre o que se passou na última década, após a morte da maior lenda do século XX.
Já conhecia de há muitos anos a obra de Jacques Cousteau, aliás metade da minha prateleira "nobre" está ocupada por livros dele, sem falar que possuo mais de 10 DVD's. No entanto fiquei surpreendido com o que li; Cousteau foi dos primeiros humanos a se manifestar em relação ao ambiente, mas naquele livro explica de uma forma tão clara como inédita a forma como ele assiste à destruição do planeta e lança um grito de alerta a todos os cidadãos no sentido de ser absolutamente necessário ganhar uma consciência ecológica e, sobretudo, obrigar os governantes a respeitá-la.
É um livro absolutamente fantástico, com um encadeamento de capítulos que à primeira vista podem não ter uma relação directa uns com os outros, mas que à medida que vamos lendo começamos a perceber a lógica por trás deles.
Cousteau começa por nos falar das motivações dos exploradores, do Amor pela descoberta, dos riscos inerentes. Depois detêm-se num capítulo acerca desses mesmos riscos na sua perspectiva de explorador. Seguidamente introduz-nos inteligentemente na sua analise sobre a forma como governos, industrias e militares fazem a humanidade e o planeta correr riscos ao mesmo tempo que procuram que nós nos mantenhamos alheados desses mesmos riscos.
Passa então a explicar a fragilidade do nosso planeta, vai buscar as escrituras sagradas das diversas religiões para mostrar que lá também podemos encontrar mensagens ecológicas. Retornando à temática da destruição do planeta com aquilo que ele apelida de
saque e com a inconsciência provocada pela ganância dos lucros.
Volta à temática da exploração, demonstrando a sua compreensão pelos cientistas, comparando-os aos exploradores e a ele próprio e traçando uma linha separadora entre a ciência pura e a ciência aplicada. Após o que volta a sua atenção para o problema nuclear, arrasando de uma forma brilhante toda a argumentação a favor desta opção. Este é o maior capítulo do livro e só por si vale bem a leitura do mesmo, agora que voltamos a falar de centrais nucleares em Portugal e que os acidentes com as mesmas em Espanha e França se multiplicam.
Cousteau deixa-nos ainda a sua visão "optimista" para o futuro do planeta, em que após um cataclismo nuclear a humanidade sobrevive e consegue corrige a destruição que lhe causou, na forma de um sonho enquanto está na ponte do Calipso durante uma viagem nocturna.
Por fim traça-nos a sua perspectiva sobre a evolução e complexidade da vida, em que os mais complexos organismos entre os vertebrados, as plantas e os invertebrados dão o nome ao livro. A luta pela sobrevivência dos indivíduos e das espécies e como a morte é a geradora da vida.
Leiam no Lado Escuro da Lua!