quinta-feira, 11 de abril de 2013

Margem sul


Os primeiros raios de sol beijam as águas enrugadas pela brisa da alvorada manchas douradas contrastam com o azul-escuro das sombras das colinas.

As traves vermelhas da ponte vão atravessando a paisagem enquanto o comboio progride em direcção ao casario triste. 

Lá em baixo pequenos barcos baloiçam abrigados pelo pontão de um porto de abrigo que já viveu momentos mais áureos.

Olhando para a margem os sinais de degradação são evidentes. Armazéns caquécticos apresentam um ar abandonado, na maioria das casas as paredes exibem apenas vestígios de já terem tido tinta, a esta distância nenhuma janela apresenta sinais de cortinados. A pequena ruela deserta e escura bordeja o rio, por entre o casario não se vê vivalma mas sente-se que sobre aquelas pedras numa época anterior já houve um movimento frenético de pescadores, marinheiros, familiares e amigos. Parece que as emoções das despedidas para as campanhas do bacalhau ficaram por ali agarradas aos muros e ao pó que se tem acumulado. 

Em contraste o elevador panorâmico de linhas redondas e design moderno anda num sobe e desce ditado pelo ritmo dos turistas. Um cilindro branco eleva-se desde a margem até ao topo da colina ligado por uma ponte, também ela branca. No meio daquele quadro de linhas austeras e quadradas parece um artefacto alienígena.

No entanto há poesia naquele espaço, uma beleza decadente emana aos olhos de quem observa aquela paisagem despertando sentimentos nostálgicos. À medida que nos afastamos as imagens começam a tornar-se difusas na ténue neblina da fria manhã de Outono. Os detalhes vão se ofuscando, mas a mística vai aumentando, assumindo um protagonismo maior. Quase que se ouvem os gritos de despedida das jovens para os seus homens prestes a partir para a Terra Nova. Quase que se sente o cheiro do bacalhau misturado com o das lágrimas de alegria e saudade de quem viu um seu familiar chegar são e salvo. 

As pinceladas verdes das ervas que crescem entropicamente pelas encostas, o amarelo escuro das areias sujas pelas águas turvas do Tejo lutam contra os tons monocromáticos da paisagem.

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