quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Tempestade 1

Navego no meio da tempestade, as vagas roçam o céu de chumbo, o vento uiva nos brandais, temo que o tormentin (pequena vela usada quando o vento é muito forte) se desfaça sob a sua fúria. O barco geme e range a cada rajada de vento, não consigo ganhar velocidade, não consigo sair dali, cada vez que tento voltar a popa à fúria do mar uma onda desfaz-se na proa abortando essa demanda.

Não tenho medo, se há um sítio onde não tenho medo de morrer é no mar, consigo manter a proa virada às ondas, o barco sobe-as, quais montanhas de água em movimento. Parece que fica na vertical, lá em cima projecta-se no vazio caindo com estrondo no regaço da onda seguinte, por vezes mergulha profundamente naquele mar tempestuoso, agarro-me com ambas as mão à roda de leme, luto desenfreadamente para me manter a bordo.

Os dias passam, semanas, meses, aquela tempestade não termina... Espera, lá ao fundo, parece um raio de sol... É um raio de sol. Sinto-me só naquele navio, estou cansado, doem-me as mãos, os braços, os ombros. De repente vejo um intervalo maior entre 2 cristas, agarro a escota com uma mão, deixo a escota escorregar no molinete. Arribo ligeiramente de modo a ganhar alguma velocidade, atinjo o cume da primeira montanha de água, desta vez vou muito mais perpendicular, já não caio, desço a onda a grande velocidade, lá em baixo orço descaradamente, puxo a escota, rapidamente o vento muda de bordo, ganho velocidade, subo a onda seguinte.

Tenho o raio de sol à proa, uma gaivota pousa junto a mim, peço-lhe para ficar de olho na roda de leme, corro até ao pé do mastro e puxo as adriças da vela grande que sobe célere. O rumo mantém-se estável, desloco-me à proa troco o tourmentin pelo estai. Volto até à roda de leme, o barco já segue célere pelas ondas o céu vai trocando lentamente os tons de chumbo por tons laranja. Ainda estou só, apenas a gaivota me acompanha, falo com ela, desabafo sobre a tormenta que atravesso ainda, mas que aos poucos vai desfazendo. A gaivota levanta voo e aponta-me o caminho, fixo a roda de leme as ondas estão ainda pesadas, ainda me encontro só. Desloco-me de novo à proa, chegou a altura de fazer subir a genoa. O casco começa a planar, volto-me para traz e vejo-A ao leme. Já não estou só, ELA conduz-me a um lugar mágico, sinto-me enebriado pelo cheiro, envolvo-A com um braço, beijo-A, AMO-A.

Estou feliz, muito feliz, não sei para onde me dirijo, apenas tenho uma certeza: com ELA vou até ao fim do mundo, até ao fim da vida.

Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A minha Musa


Para que não restem quaisquer dúvidas a musa que me inspira foi a minha primeira namorada, chamava-se Teresa, era 2 anos mais velha que eu, era loira, tinha uns lindos olhos azuis, uma pele clara e macia. Frequentávamos o 8º ano na Escola de Lagos e namoramos esse ano e o Verão seguinte, depois de outro chumbo o pai mandou-a estudar para Lisboa, perdi-lhe o contacto, nem sequer sei se ainda é viva. Era demasiado bonita, demasiado ardente e demasiado jovem...


Ficou no meu coração, como qualquer primeiro amor, mas muito sinceramente não gostava de voltar a encontrá-la. Quero recordá-la como era nessa altura, linda de morrer, fogosa, terna, dominadora, um pouco Maria rapaz de feitio mas com uma sensualidade contrastante.

Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.