segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Remember that night

Já faz algum tempo que estava a prever um temporal para o meu lado. Sentia que o tempo não augurava nada de bom, a iminência da catástrofe sufocava-me, não a via, não fazia a mínima ideia se seria um terramoto, um furacão, inundações... não tinha a mais pequena ideia do que vinha aí, mas sentia que era algo terrível. Os temporais que me assolavam não eram mais do que um sinistro prenuncio de que algo verdadeiramente catastrófico estava para acontecer.

Hoje os meus receios e temores mais negros foram materializados, foi como se tivesse sido atingido por um tsunami gigante. Morri, morri mesmo, um cadáver conduzia aquela Strakar, a minha alma não habitava o meu corpo, tinha sido de lá arrancada pelo tsunami devastador, levada para a Antárctida onde ficou aprisionada sob um imenso glaciar...

De repente uma onda engole-me e lança-me a toda a velocidade num surf sem prancha directo à praia. Senti o fluir da água em torno de mim e a premente vontade de voltar a respirar; senti a areia a friccionar o corpo, travando a velocidade até à completa imobilização; a água recua deixando-me finalmente respirar. Foi algo contrariado que permiti que uma golfada de ar voltasse a invadir-me os pulmões. Expirei, levantei a cabeça e desatei a rir, ri profundamente e as minhas gargalhadas fizeram levantar as gaivotas que se preparavam para dormir ali por perto.

Olhei à minha volta, estava completamente nu deitado na areia enquanto as ondas vinham acariciar-me o corpo, levantei-me estava quase só, ao longe na névoa da maresia apenas se vislumbravam os vultos de algumas pessoas que passeavam pela praia. Voltei a correr para a água, repeti o longo surf, no fim do qual soltava um grito de prazer retornando para o mar que novo me trazia para terra.

Depois de dezenas de investidas voltei para a areia, exausto, distingui com dificuldade a minha roupa abandonada no areal, sentei-me ao lado dela e contemplei o pôr do sol, entrei em meditação e ali fiquei até o sol desaparecer por completo no horizonte, vejo o telemóvel a se assomar num bolso das calças e ponho a tocar aleatoriamente. Primeiro um jazz por Diana Krall - Almost Blue, seguiu-se The Blue de David Gilmour e quando as primeiras estrelas começaram a ficar visíveis Island também de David Gilmour.

Remeber that night
White steps in the moonlight
They walked here too
Through empty playground,this ghosts' town
Children again, on rusting swings getting higher
Sharing a dream, on an island, it felt right

We lay side by side
Between the Moon and the Tide
Mapping the stars for a while

Let the night surround you
We're half way to the stars
Ebb and flow
Let it go
Feel her warmth beside you

Remember that night
The warmth and the laughter
Candles burned
Through the church was deserted
At dawn we went down throgh empty streets to the harbour
Dreamers may leave, but they're here ever after
Levantei-me, sacudi o melhor que consegui a areia do corpo antes de me vestir e procurei o carro, coloquei a chave na ignição e o CD começou a tocar Diana Krall - Every time we say goodbye, I die a little. Recostei-me no banco e fiquei ali a contemplar um céu cor de laranja. Respirei fundo, os versos de On an Island atravessavam-me o pensamento misturando-se com aquilo que ouvia nesse momento e pensei em tudo o que me tinha acontecido.

Tinha morrido e voltado a nascer.

Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!