domingo, 30 de março de 2008

Regresso


Realizei propositadamente esta foto, finalmente acabou um longo jejum de mergulhos! Foi uma espécie de sair das trevas, de encontrar o fim do túnel!

Já passaram várias horas desde que saí do Reino de Neptuno, mas continuo a sentir embalado pelas Ninfas. Sinto uma profunda paz, posso dizer que é como se continuasse a flutuar. Nada me afecta neste momento, talvez a sensação que neste momento perpassa o meu corpo seja idêntica ao que sente alguém que atinge o Nirvana, talvez seja isto o Nirvana, o Satori, o Paraíso...

Sinto-me ainda em sintonia com as ondas que suavemente me recolheram quando mergulhei e que me embalaram enquanto no fim do mergulho aguardava a chegada do barco, que se tinha afastado para ir buscar outra dupla que saiu muito longe do ponto em que entramos. Foi perto de 1 hora que estive dentro de água, mas as sensações dessa hora mágica acompanharam-me o resto do dia. O suave cantar da ondulação entoa nos meus ouvidos e ainda sinto as suaves massagens que só as Sereias e as Ninfas sabem dar.

Resisti a tirar o sal do corpo até à hora de jantar, arranjei pilhas de desculpas para prolongar aquela sensação de uma aspereza terna e salgada, que como que tempera o corpo e a alma. Mas agora neste momento volto a senti-la, as memórias não residem apenas no cérebro, a pele, a língua, os ouvidos e o nariz também a têm e neste momento sinto aquelas sensações de novo como se estivesse lá!

Paz, harmonia, calma tudo isto é o que sinto, a música do Café Del Mar interliga-se com estas sensações e eleva-me a alma, acho que a minha alma está ainda lá em Sesimbra, com as Ninfas, as Sereias, os peixes, as gorgónias, se calhar ficou ali a contemplar aquele espirógrafo que dançava ao sabor da corrente. Parece que ainda lá estou, parece que renasci...

Quem me dera ter guelras, quem me dera ser um peixe, um coral, quem me dera viver para sempre lá, a vogar pelas correntes, numa imponderabilidade que se altera à medida que enchemos de ar os pulmões dando-nos um suave impulso ascendente, para à medida que libertamos o ar embalar-nos com ternura a caminho das profundezas.

O peso é uma grilheta que nos colocam quando saimos do seio do mar. Lá em baixo apenas ajusto o colete para me dar o equilíbrio perfeito, depois cada ligeiro movimento das barbatanas deslizo suavemente sobre as rochas do fundo, aproveito as correntes e deixo-me levar não é preciso lutar, não é preciso escolher um caminho, basta deslizar sem esforço, sem pressas, sem stress.

Como é perfeito este mundo, como podemos nós termos abandonado o seu ventre e vir viver para terra, onde a gravidade nos amarra ao chão duro, agreste e rude, onde a dor impera e a cada movimento é polvilhado por violência.

Como eu gostava que todos os seres deste planeta se sentissem como eu me sinto...

Fiquem Bem no Lado Escuro da Lua!

terça-feira, 25 de março de 2008

Yabadabaduuuuuu!!!

Estou radiante! O médico autoriza que faça mergulho com moderação. Isto significa que tenho de limitar os mergulhos aos 18 metros, viagens de barco de 30 minutos no máximo e apenas com o mar calmo e, sobretudo, nada de carregar pesos.

Outra ordem para cumprir é a de começar a fazer natação de modo a reabilitar os músculos das costas, que há vários meses que não fazem exercício nenhum. Fazer caminhadas agora com distancias e ritmos mais elevados. Mantém-se a proibição de me sentar por períodos de tempos superiores a 30 minutos/1 hora, utilizar máquinas que produzam vibração, todo-o-terreno está também interdito, pelo menos até Junho. Perder peso é um objectivo que terei também de ter em atenção, algo como 10 Kg será a meta.

Ao escrever o título lembrei-me de uma discussão filosófica que li não me lembro onde:

I think then I am
René Descartes

I am then I think
Jean Paul Sartre

Yabadabadu
Fred Flindstone

Fiquem Bem no lado escuro da Lua!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Remember That Night

Ao largo de Sesimbra em 8 de Julho de 2006 pelas 22:30

Como prenda do dia do Pai recebi o DVD "RemeberThat Night". Estou a vê-lo e ouvi-lo o mesmo tempo que estou escrevendo este post.

Apenas posso dizer que é algo de transcendente, o "velhote" ataca as cordas como ninguém, sem menosprezar outros (entre os quais incluo Eric Clampton, Joe Satrianni, Carlos Santana e mesmo Jimmy Hendrix), David Gilmour é o guitarrista que mais me enche as medidas. Não falando no legado que deixa pois a solo ou com os Pink Floyd produziu do melhor que já ouvi até hoje, de resto para quase todas as músicas dos Pink Floyd tenho uma história para contar.

REMEMBER THAT NIGHT... Algumas noites não se esquecem, os seus sabores, os seus sons, os seus cheiros, imagens e sensações permanecem na nossa boca até ao fim da vida, coisas que parecem vulgares tendem a ficar para sempre cristalizados nas nossas memorias, coisas simples como um esparguete à bolonhesa, podem passar muitos anos podemos comer muitos esparguetes à bolonhesa, mas aquele em particular nunca mais será esquecido.

O meu primeiro mergulho nocturno foi em Lagos na Ponta da Piedade durante uma lua nova. Por cima das nossas cabeças o céu apresentava-se completamente estrelado, muito mais do que alguma vez tinha visto, o brilho das estrelas reflectia-se num mar estanhado, aqui e ali uma estrela cadente riscava-o e parecia tombar no mar. Quando mergulhei, ao desviar o olhar do cone de luz da lanterna para verificar o equipamento surgiu a grande surpresa, afinal não era só no céu que haviam estrelas ali à minha volta milhares de estrelas brilhavam, desliguei a lanterna e o espectáculo foi impressionante cada movimento deixava um rasto luminoso, qual via láctea submarina, inspirei profundamente e mergulhei sustendo a respiração, fiquei lá embaixo alguns minutos, finalmente tinha regressado a casa, com muita pena tive de regressar à superfície, pois o folgo não era infinito (foi um mergulho em apneia), cá cima já todos estavam preocupados, NITROX; NITROX ONDE ESTÁS? - liguei de novo a lanterna - Bolas pregaste-nos um susto dos grandes há mais de 5 minutos que te procuramos.

Aqueles foram os melhores 5 minutos da minha vida.

Voltei a repetir os mergulhos nocturnos de caça submarina mas só passados 20 anos voltei a ter outro mergulho nocturno memorável. Foi o primeiro mergulho autónomo nocturno, foi em 8 de Julho de 2006 em Sesimbra. Passadas as burocracias do costume lá zarpamos directos à Baía dos Porcos. No caminho fui contemplando a lua cheia que se reflectia no mar como uma língua de prata em direcção ao nosso barco, uma forte brisa nocturna de Julho acariciava-me o rosto, o natural arrefecimento quando se vai para o mar não conseguia atravessar o fato semiseco, sentia-me numa profunda paz, mesmo tendo em conta a excitação pela aproximação do mergulho. Finalmente chegou o grande momento, eram 22:48. Deixei-me cair na água com as lanternas propositadamente desligadas, dei por mim no meio de uma explosão de luz, senti-me no centro de uma galáxia, depois lentamente as estrelas vão-se apagando, é então que resolvi subir e comunicar aos outros que está tudo bem.

Após checar todo o equipamento aguardei ansiosamente o sinal de descer, quando tal aconteceu voltei a sentir de novo aquela paz, aquela sensação de voltar a casa. Verifico o computador, estou a 7 metros de profundidade, tenho 220 bar de ar na garrafa de 15 litros e um RBT (Remain Bottom Time, tempo restante à profundidade) de mais de 99 minutos, deve dar para ficar mais de 1 hora lá embaixo. Apesar da forte brisa que provoca uma grande corrente a temperatura é amena à superfície (21º) debaixo de água não passa dos 15º, mais uma vez abençoou o fato semiseco, continuo o mergulho desço um pouco mais mas não chego a ultrapassar os 9 m dou comigo rodeado de bruxas ou, como também são conhecidos, cavacos. Foi por eles que fiz os primeiros mergulhos nocturnos, mas desta vez não os perturbo, apenas os contemplo, parados encandeados pela luz da lanterna, aqui e ali um safio esgueira-se por entre as rochas. O equilíbrio não está bom, não sei porquê mas aquela profundidade tenho a tendência de os pés subirem em relação à cabeça. Anoto mentalmente que preciso de comprar uns pesos para colocar nos pés. O ar da garrafa ainda vai nos 80 bar mas fazem-me sinal para subir, ao chegar cá cima protesto pois achava que tinha sido pouco tempo e ainda tinha para quase meia-hora. Dizem-me que já passou uma hora de mergulho. - JÁ?!

Nota: A precisão dos números deve-se ao facto de ter mesmo aqui à mão os dados do computador de mergulho.

Fiquem Bem!

domingo, 9 de março de 2008

Melancolia


Tenho andado algo deprimido, tal deve-se fundamentalmente a estar confinado a uma vida de quase clausura, de não poder mergulhar, sobretudo da consciência desse facto. É verdade que no ano passado fiz poucos mergulhos, mas não tinha um impedimento tão explicito, ao fim e ao cabo sabia que em qualquer altura podia com maior ou menor sacrifício e ir fazer um mergulho. Por exemplo no último fim-de-semana antes da operação ainda tentei ir fazer um mergulho, mas não tive buddy's e fiquei em seco.

Vou vendo os filmes Atlantis, Vertigem Azul, os documentários do Cousteau e tudo o resto que se passe no mar, em baixo ou em cima, também tenho lido de fio a pavio as revistas Planeta d'Agua que em boa hora comprei na Nauticampo; tenho ainda mais uns livros que de vez em quando vou relendo como sejam "Dive in Style" ou o "Guia de Mergulho Açores"; por fim e sempre que consigo estar numa posição mais vertical dou uns saltitos pela Internet devorando tudo o que seja sites de mergulho.

Quando dá para sair a algum sítio é para a praia que vou, fico horas só a olhar e a ouvir o mar, umas vezes a passear pela praia outras sentado no Cabanas a beber uma bebida quente, deixo-me embalar pela poesia que é ditada pelas ondas e vou recordando os mais belos momentos que passei no mar, vou gizando os planos para a "rentrée" e sonhando com uma vida perfeita que seria toda ela ligada ao mar. É um prazer enorme estar ali horas a fio a ouvir as histórias que o Oceano nos conta umas vezes em tons de epopeia outras em melancólicos sonetos, observando cada crista das suas ondas como se fossem telas de um qualquer pintor impressionista, ficar ali só, apesar de acompanhado por toda uma miríade de seres reais e mitológicos, observar os mergulhos em voo picado das andorinhas do mar e os bandos de gaivotas orientadas na direcção do vento como se fossem cata-ventos, aqui e ali uma tainha salta para fora de água na tentativa de escapar a um predador que se mantém invisível debaixo do grande azul.

Raramente me venho embora sem ver o pôr-do-sol, esse momento mágico em que as cores e os contrastes se tornam mais vincados em que as sombras projectadas pelas ondas se acentuam criando um ambiente quase sobrenatural que é amplificado pela maior percepção da maresia, esse cheiro salgado que nos invade e embriaga ficando colado ao corpo na forma de pequenos cristais de sal. É nessa altura que a visão dos rosas, laranjas e amarelos dos pôr do sol, a audição dos estrondos roucos e graves das ondas misturados com os agudos do marulhar, a maresia invade o nosso olfacto deixando um paladar salgado na boca ao mesmo tempo que o vento nos acaricia a pele, preenchendo assim na plenitude os nossos sentidos. Os minutos passam sem opressão, não consigo dizer se depressa ou devagar, apenas passam deixando a alma preenchida os sentimentos acalmam e entra-se num estado meditativo.

Tudo o resto deixa de ser importante, até nós próprios parecemos deixar de existir sendo integrados naquele quadro, vemo-nos então numa perspectiva de terceira pessoa como se a nossa alma flutuasse para fora do corpo e fosse ocupar a posição do pintor que traça as linhas de uma tela cósmica. Deixo de me sentir um eu e transformo-me num borrão que o pincel desse pintor desenha num quadro perfeito em que os sons e os cheiros também se imortalizam num instante eterno.

Fiquem Bem!

sábado, 1 de março de 2008

Cheirinhos

Hoje tem estado um excelente dia, assim sendo achei que era uma óptima ideia dar um pulinho até à Fonte da Telha e aproveitar a maré vazia para fazer uma caminhada na areia dura.

Quando estacionei o carro junto ao Cabanas vi que se estavam a preparar para sair para um mergulho, fui até lá farejar o cheiro do neoprene e da borracha e logo dou de caras com um antigo colega de trabalho - o Pedro.
- Oi! tu por acaso não trabalhaste na Regra?
-Aí meu há quanto tempo. É pá mas estás muito diferente.
-Pois é cortei a barba...

A conversa foi andando por ali, até que chegou o momento de irem para o mar. Despedi-me -Bom mergulho. No caminha para casa toca o telemóvel:
-Está sim? Daqui é o Luís.
-Oi Luís queria mesmo falar contigo, estou a pensar ir até aí aos Açores fazer uns mergulhos e terminar o curso de Rescue.
-Tudo bem, quando vens? Agora tem estado perfeito.
-Agora não dá estou a convalescer da operação, 26 de Março o médico vai reavaliar o estado disto e já devo ter por essa altura uma ideia.
-OK, então quando estiveres operacional combinamos tudo.

Agora estou a descansar um pouco, depois vou num instante ao Casco Antiguo para colocar o regulador na revisão e talvez adquirir uma mascara nova, estou a pensar na Cressi Matrix, é um modelo um pouco maior do que a Linx (que tem a minha filha) e que está muito bem concebida pois permite uma fácil leitura dos instrumentos sem comprometer a visão global, graças ao seu vidro inclinado.


Fiquem Bem!