quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Meditação


pensamentos em 09-10-2007 8:36
Ontem o vento estava forte quando sai do barco, vinha de conversa com uma colega e não me apercebi, depois quando nos separamos dei por ele. Aproximei-me do molhe e senti-o com vigor a massajar-me a face, estive ali parado durante minutos apenas sentindo-o, ouvindo-o a cantar, sentindo o seu cheiro salgado. Às vezes interrogo-me como as coisas mais simples podem ser as mais belas.
Sempre adorei o vento, talvez por ter vivido em Lagos, talvez por qualquer desequilíbrio energético. O certo é que gosto de o sentir, dá-me um prazer incrível passear ao vento. Recordei-me de um passeio na praia, ao pôr-do-sol, aliás não era assim tão diferente, ali ao pé rebentavam pequenas ondas, o cheiro a maresia pairava no ar e o sol punha-se pintando as esparsas nuvens de um tom rosa choque.
Nem um pensamento abordou a minha consciência, só o prazer transmitido pelos sentidos. Respirei aquele ar salgado profundamente e senti-o a penetrar nos pulmões e a misturar-se no sangue, tomando o lugar do CO2 que acabei por expulsar no fim do ciclo da respiração. A minha mente, apesar de cansada após um dia longo de trabalho, ficou mais fresca, mais desperta. Porém uma pequena dor no pescoço, que tinha começado a manifestar-se ainda no trabalho, teimava a estar lá, no entanto não me incomodava, apaguei-a do meu consciente, aliás apaguei o meu consciente e continuei ali a ouvir e a sentir o vento.
Ao fim e ao cabo trata-se de uma espécie de meditação. Para mim meditar é sempre uma experiência libertadora, às vezes esqueço-me, não tenho tempo ou estou demasiado cansado. Como já referi a vida actual é uma correria, estamos sempre à pressa, sempre contra-relógio. Muitas vezes não temos tempo para aquilo que é de facto importante – VIVER. O acto de meditar faz parte da vida, ajuda-nos a acalmar a mente, tal como o dormir, meditar é fundamental para o nosso equilíbrio mental, talvez por ser tão menosprezada hoje em dia é que estamos a viver numa sociedade cada vez mais esquizofrénica.
Meditar não tem nada de esotérico, lembro-me de uma conversa com o director comercial da Ameritec para a Europa há uns anos atrás. Ele provinha de famílias tradicionais inglesas e contou-nos a respeito de um vinho do Porto que lhe recordava a sua juventude, que se lembrava claramente do pai sentado à lareira a fumar um "Romeo e Julieta" e a beber um cálice desse vinho. Ele ficava ali em silêncio observando as labaredas, enquanto bebia e fumava. Isto é uma forma de meditar. Já escrevi aqui que um dia estava só na praia e resolvi meditar enquanto tentava sincronizar a minha respiração com as ondas. É preciso descobrir o nosso ritmo nos muitos que o Oceano tem, mas a recompensa é muito gratificante.
Claro que com toda esta loucura que se vive hoje em dia é muito complicado parar para não pensar, os problemas assolam-nos, é a taxa do crédito à habitação que não pára de subir e nos sufoca, é a situação no trabalho que está cada vez mais precária e desumanizada, é o custo de vida que não pára de subir acima dos salários. Todos temos muito graves motivos para andar sempre com a mente ocupada. Mas apesar disso, ou talvez mesmo por causa disso, devemos arranjar um momento para nos descontrairmos, para atirar para trás das costas todos os problemas. Tenho de confessar que até sou um privilegiado vivo ao pé do mar e da mata, para além disso tenho uma forte aliada – a música, seja o David Gilmour, os Pink Floyd, os Tangerine Dream, o Vangelis ou simplesmente a música do vento ou das ondas.
Às vezes é o q.b. escutar serenamente a música do vento ou o ritmo das ondas, tão menosprezados e no entanto tão belos. Fico a pensar que a nossa sociedade só dá valor a tudo aquilo que é pago, quantas pessoas vemos parar para admirar um pôr-do-sol? Se calhar se aparece-se uma marca a patrociná-los e começa-se a cobrar para os vermos, as audiências iriam subir.


Fiquem Bem!

2 comentários:

  1. Nem imaginas como te invejo... a sorte que tens em poder respirar o vento com cheiro a mar... Quem me dera ter omar à porta...

    Fica bem

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  2. Para quem não vê o mar há mais ou menos 2 meses, este teu post é um bálsamo.
    Sabes, que me deixei embalar nas tuas palavras e, a certa altura, já sentia a brisa a acariciar-me o rosto, ouvia o ritmo das ondas,...
    Obrigada; Amigo, a ajudares-me a ir deitar-me mais serena.

    Bjt

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