quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mar e Chuva

Fonte da Telha Abril de 2006

Hoje fui invadido por um turbilhão de sentimentos contraditórios. Para começar reunião de pais do colégio da filhota, às vezes é uma seca, mas tem sempre o condão de mostrar até que ponto a mucheca (termo algarvio para miúda) está evoluida: já nos sentamos confortavelmente nas cadeiras deles, as temáticas da sala já são outras, os colegas já nos parecem muito crescidos, etc.

Também aconteceram situações desagradáveis a nível pessoal e não só, mas essas deixo-as para o escárnio. Aqui evito trazer temas desagradáveis, apesar de por vezes me ver obrigado a fazê-lo.

Chegado a casa, apeteceu-me ir até à praia. E lá fui, com os meus cães, quer dizer os 3 mais velhos, o Dudú e o Max ainda não estão suficientemente obedientes para esses longos passeios.

20 minutos de caminhada e lá estava eu com os pés descalços na areia. Não corria vento, nem um fio, o mar estava estanhado, apenas pequenas ondas vindas de uma tempestade distante rebentavam ordeiramente na areia que se esticava até longe aproveitando a baixa-mar. No ar sentia-se aquele aroma típico dos fins de tarde balneares, lá atrás sobre os pinheiros começavam-se a assomar timidamente algumas nuvens que anunciavam a proximidade de chuva, para além dos tractores dos pescadores que de resto estavam abandonados no areal, viam-se pequenos grupos de pessoas dispersos. Sentia-me quase só.

Aproximei-me do mar e deixei que a 1ª onda me lambesse ternamente os pés. Surpresa! A água estava bastante temperada, tépida mesmo, meditei por alguns segundos - Bolas! Não trouxe o fato de banho! Que se lixe! - Afasto-me umas centenas de metros dos veraneantes mais próximos e aqui vou eu. Entrei sem qualquer hesitação, a água estava mesmo um caldo. Fiquei por ali nadando, apanhando boleias nas ondas, observando a luz do sol poente deslizando na minha direcção ou simplesmente deixando-me absorver pela comunhão total com aquele quadro de uma beleza imensa. O tempo, esse carrasco impiedoso, continuou a sua marcha e verifiquei que eram 19:30. Está no momento de regressar.

Saí contrariado daquele mar de prata e com alguma relutância comecei-me a vestir. A viagem de regresso a casa começou com a constatação que as nuvens que prometiam chuva tinham perdido todo o pudor e agora apresentavam-se completamente desinibidas. Pensei se a minha nudez não teria contribuido para essa emancipação. Não creio, mas acredito piamente que serei contemplado com um duche antes de conseguir chegar ao meu chuveiro.

O inevitável aconteceu, a chuva começa a cair, mas longe de ser algo de desagradável, veio dar um novo colorido ao quadro de sons, imagens e cheiros que se tinha composto neste magnífico fim de tarde. Estava precisamente a atravessar a Mata dos Medos, em pleno pinhal, quando recebi este brinde. Não sei se algum de vós já passeou no meio de um pinhal à chuva; os cheiros da terra molhada, da resina, da madeira húmida, das agulhas dos pinheiros e das pinhas banhadas pelas gotas da chuva; o verde das folhas ressalta com o brilho da água, o castanho da areia e da caruma toma um tom ocre. O pinhal adquire um ar mágico.

Deixo aqui uma das músicas que tenho estado a ouvir enquanto redigi estas linhas:



Fiquem Bem!

5 comentários:

  1. Sabe bem... fiz todo esse percurso contigo... na minha mente senti os cheiros, o toque das águas no corpo nu...

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  2. Quero deixar-te um beijinho e dizer-te que breve espero estar de volta

    Bjt

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  3. É assim que gosto da praia, intima. Um dos melhores dias que tive desse género foi na praia do malhão, em Porto Covo. Uma chuvada de verão, boa companhia... a felicidade.

    Um abraço!

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  4. Não me faças inveja!!!
    Ir ao banho nua num mar de prata sem ninguém por perto e depois ainda ter a opurtunidade de um duche de chuva...é...quase divinal!

    Beijos

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  5. Não há nada como o cheiro da terra molhada. Nunca passei pela Mata dos Medos a chover, mas seja qual for o arvoredo à chuva tem sempre um aroma extremamente agradável...fortes ligações com a terra.
    Agora é a melhor altura para nos refugiarmos na praia...quase vazias e os cães adoram!

    : )

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Obrigado por mergulhar aqui